quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Amor, poesia e cozinhar




Cozinhar é um dom. Não é simplesmente seguir a receita. Muito depende da inspiração e muitas vezes o que tem na geladeira. Há algo mágico no ato de cozinhar. É uma espécie delicada de feitiçaria. Está presente a criatividade e o prazer. Cozinhar nos situa num lugar muito particular. São momentos sublimes, de êxtase e genialidade. De fato, "carrega uma força emocional ou psicológica do qual não podemos ou queremos nos livrar". Cozinhar é um ato de amor. Se o amor é o ápice mais perfeito da loucura e da sabedoria, cozinhar é uma forma poética de juntar elementos genuinamente diferentes e torná-los agradáveis. Cozinhar faz parte da poesia da vida.
Cozinhar abre perspectivas e novos horizontes. Porque vamos aprendendo sobre os ingredientes, logo queremos saber a procedência (o produtor), como as coisas são feitas, sua trajetória.
E é um momento festivo e nostálgico a hora de comer. As conversas, os olhares, o silêncio e o barulho dos talheres. Quando estou na presença de minha família e de pessoas especiais, sinto a presença de Deus. É um raro momento de epifania.
Para Michael Pollan, cozinhar é uma das atividades mais interessantes e recompensadoras que podemos fazer. Dizem que escritora Agatha Christie fazia da cozinha seu refúgio predileto. Quando seu pai morreu, em 1901, ela estava com 11 anos. Em vez de ir ao funeral, preferiu passar o dia entre pratos e fogões. Certa vez, a autora admitiu que os melhores momentos para inventar uma história eram aqueles passados ao fogão, que cozinhar e escrever eram ofícios muito parecidos.
No meu caso, desde criança acompanhei minha mãe na cozinha. Era um misto de curiosidade e desejo de aprender, o verdadeiro complexo de Prometeu. Como um aluno aplicado, tentei seguir os passos dela e superá-la. Não fui bem sucedido no preparo dos doces. Mas aprendi e aprendo muito com ela no preparo de pratos salgados. Aprendi a culinária francesa, italiana, espanhola, portuguesa, brasileira, entre outras. Há muito ainda a aprender.
O ato de cozinhar é um eterno aprendizado. Dissolve angústias, orienta uma decisão, ajuda a construir saídas no labirinto criativo. "Cozinhar é a única coisa que, enquanto eu faço, sinto poder confiar inteiramente. Quando monto um prato, minha mente se esvazia por completo. Tudo se baseia no sentimento". É um momento doce, salgado, picante de amor e poesia.

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