terça-feira, 18 de março de 2014

Como foi a criação e elaboração do livro?
O livro é fruto de 13 anos dedicados ao entendimento da obra shakesperiana, em especial, a peça Ricardo III. Foi objeto de pesquisa de iniciação científica, mestrado. Senti que era o momento ideal para publicação deste trabalho. Por essa razão, apoiado por alguns alunos de Relações Internacionais, Guilherme Backes, Junior Bourscheid, Juliana Graffunder, Eduardo Wontroba e Taís Röpke, pudemos rever e reavaliar meu mestrado. Com a revisão finalizada pelos alunos e por mim, decidi publicar pela Azougue Editorial do Rio de Janeiro. E o livro está magnífico! 


Como iniciou o interesse em abordar o tema? Ou porque ele foi escolhido?
Partiu de uma situação inusitada que relato de modo breve... No ano de 1999, fiquei sabendo de uma palestra intitulada A guerra em Shakespeare que seria (foi) proferida pelo professor Miguel Wady Chaia. Senti-me atraído pela palestra. Ao final da mesma, tive certeza que este era o tema para ser a linha condutora da minha carreira acadêmica. Lembro que duas semanas após o evento, já tinha lido umas dez peças shakesperianas. Fiquei fascinado e apaixonado pelo objeto de estudo. E me encantei com a peça Ricardo III. Iniciei já em 1999, uma pesquisa de iniciação científica sob orientação do professor Chaia. Eu identificava nas leituras prazerosas de Shakespeare, elementos que norteiam a política: conquista, posse, queda do poder, urdiduras palacianas, virtù, fortuna, intrigas, jogos de poder. Ou seja, a arte, como a filosofia e a ciência, é um exercício de pensamento e criação capaz de gerar diferentes formas de conhecimento. Ampliar as fronteiras do conhecimento produzido pela arte e agregar novas possibilidades para a a área do saber foram metas e resultados que eu esperava alcançar e alcancei. 

Quais foram os desafios ao longo da pesquisa?
Creio que o maior desafio foi demonstrar a complexa relação entre as áreas de saber e buscar borrar as fronteiras que compartimentam a inteligibilidade do mundo. Investigar a obra shakesperiana com um olhar de cientista político não é tarefa fácil. Investigar as relações de poder, problematizar questões clássicas que envolvem a sociabilidade humana a partir de um drama shakesperiano foi, de fato, um trabalho hercúleo. Mesmo assim, um trabalho que me deixa satisfeito. A conclusão que chego é que a literatura pode fornecer consistentes elementos para auxiliar na compreensão da realidade política. Shakespeare nos transmite pistas para compreensão das quebras de legitimidade do governante, visão cíclica da história, na civilização sucedem-se governos legítimos e governos usurpadores e as trajetórias previsíveis e maléficas dos usurpadores. 


Qual é a expectativa de leitura para o seu publico? 
Suponho que as pessoas gostarão do que vão ler. É uma linguagem acessível, didática, enriquecedora, além de ser um livro marcado por uma série de encontros cognitivos. O primeiro deles é o encontro entre arte e política, à medida que busco elucidar questões das lutas pelo poder e delimitar perspectivas para interpretar a política no seu significado polissêmico. Um segundo encontro propiciado pelo livro é a reunião orgânica entre indivíduo e poder. Ou seja, desdobra-se numa questão polêmica da política, que diz respeito à relação entre ética e governança. E um terceiro encontro, vínculo indivíduo, sociedade e guerra, gerando a orgânica reciprocidade entre política e guerra. 

Quais foram os objetos de estudo e porque estes foram escolhidos?
O (s) objeto (s) de estudo (s) da presente obra é a leitura política da peça Ricardo III e o entendimento em torno do conceito de política como tragédia, ou tragédia da política. Essa ideia elucida a trajetória de Ricardo III e aponta tanto para as possibilidades da política quanto para as suas dificuldades. 
Parto do pressuposto que a política é um reino da negatividade, onde os conflitos, as tensões estarão sempre presentes. É uma condição inerente ao jogo político. A tragédia da política é a impossibilidade de realização plena da arte do desejável. E considero por fim, outro aspecto que me inquieta intelectualmente, primeiro, a capacidade humana de enfrentar as forças do destino em situações extremas – diante do desafio de contestação; segundo, o conflito entre o possível e o desejável; terceiro,  o exercício de julgamento – escolhas morais difíceis para os políticos – decisões que envolvem objetivos e valores políticos conflitantes.   Ou seja, o ponto central de análise em relação ao estadista que deve destacar as seguintes categorias: interesses, preocupações, intenções, ambições, cálculos e erros de poder, desejos, crenças, esperanças, medos, dúvidas, incertezas.

Há muitos Ricardos III por aí?

A tragédia do rei Ricardo III trata da permanente disputa do poder a qualquer preço e a falta de escrúpulos para a conquista e manutenção dele. Nela, o protagonista é um sujeito manco e corcunda, cuja aparência disforme, segundo o próprio, o impede de usufruir dos prazeres da conquista amorosa, mas não alçar vôos mais altos. No solilóquio inicial ele planeja como chegar ao poder mesmo sendo o sétimo na linha sucessória. Para alcançar seu objetivo, se utiliza de expedientes vis: conspira, manipula, explora, agrega apoios, promove alianças por conveniências momentâneas, articula adesões e coalizões, persegue e condena à morte os opositores. Movido pela sede de poder Ricardo III articula-se nas sombras, ao longo dos atos e cenas, até alcançar o triunfo almejado: o trono inglês. Para se livrar de quaisquer suspeitas de seu envolvimento nas tramas e urdiduras palacianas ele faz uso de subterfúgios conhecidíssimos: esconde-se sob o manto da religiosidade, sobriedade, humildade e outros artifícios de valores éticos e morais.
          Assim o escritor inglês nos ensina, entretém e diverte.  Através da arte teatral fornece elementos constitutivos do homem contemporâneo e suas relações. Essas movidas, muitas vezes, por uma ética individual refletida no uso indiscriminado de inúmeras máscaras como no jogo teatral; múltiplos disfarces agindo conforme interesses ou determinadas circunstâncias. Temos, então, o religioso, o ateu, o humilde, o simples, o culto, o ignorante, o moralista, o liberal, o caipira, o urbano, o ético, o ideológico, o pragmático, o vilão, o herói, o solidário, o benemérito, o sensível, o delicado, o paz e amor, etc. Todos, devidamente,  direcionados ao público alvo a ser atingido. É interessante que
vemos muito do Ricardo III também em séries como Game of thrones - Tyrion Lannister (Peter Dinklage)
 e House of Cards – Francis Underwood (Kevin Spacey) tratam sob uma ótica shakespeariana da dimensão simbólica do poder



A tragédia da política em Ricardo III

                       
A peça
            A peça Ricardo III, escrita entre 1592 e 1593, faz parte dos Dramas Históricos - ao todo são nove – constituí como a tetralogia da Guerra das Duas Rosas, gozando de extraordinária popularidade pelo seu vigor e temática envolvente. A frase “Meu reino por um cavalo” se popularizou ao redor do mundo. Esta é uma das célebres frases das peças de Shakespeare. E foi proferida por Ricardo III, personagem da peça que leva seu próprio nome.
A tragédia do rei Ricardo III trata da permanente disputa do poder a qualquer preço e a falta de escrúpulos para a conquista e manutenção dele. Nela, o protagonista é um sujeito manco e corcunda, cuja aparência disforme, segundo o próprio, o impede de usufruir dos prazeres da conquista amorosa, mas não alçar vôos mais altos. No solilóquio inicial ele planeja como chegar ao poder mesmo sendo o sétimo na linha sucessória. Para alcançar seu objetivo, se utiliza de expedientes vis: conspira, manipula, explora, agrega apoios, promove alianças por conveniências momentâneas, articula adesões e coalizões, persegue e condena à morte os opositores.
Movido pela sede de poder Ricardo III articula-se nas sombras, ao longo dos atos e cenas, até alcançar o triunfo almejado: o trono inglês. Para se livrar de quaisquer suspeitas de seu envolvimento nas tramas e urdiduras palacianas ele faz uso de subterfúgios conhecidíssimos: esconde-se sob o manto da religiosidade, sobriedade, humildade e outros artifícios de valores éticos e morais.








A atualidade da peça e o Brasil

Ricardo III é uma peça carregada de elementos políticos fundamentais intrigas; conspirações; comportamentos políticos; conflitos de poder; diálogos embebidos de retórica, persuasão e convencimento político; discursos de guerra; coalizões; violência; astúcia; dissimulação; incertezas; a inevitabilidade do Acaso; as qualidades, virtudes (virtú) e os vícios do príncipe.
          Tanto o teatro como a política são espaços nos quais somos levados a participar. Ambos exigem engajamento, envolvimento, unidade entre representantes e representados, cumplicidade entre ator (político) e público (cidadãos). William Shakespeare nos revela, através da presente obra, o diálogo entre a política e arte e, consegue manter, evidentemente, a atualidade da peça para os nossos dias.
                   Vivemos uma época em que as práticas e o discurso político são associados à mentira, a farsa, ao engodo de maneira descarada. A ética do indivíduo concebida e desenvolvida no Renascimento se hipertrofiou na contemporaneidade. Notam-se as conseqüências desse ultra-individualismo nas inúmeras doenças culturais que se manifestam na sociedade brasileira: cultura da esperteza, da transferência de responsabilidade, do imediatismo e do superficialismo, do negativismo e da baixa auto-estima, da vergonha da cidadania e patriotismo, do rir da própria desgraça, do desperdício, do consumismo, do tecnicismo, do corporativismo, da politicagem, do fisiologismo e do nepotismo e, por último, a cultura do conformismo. Tais comportamentos viciosos proliferam-se na esfera dos três poderes do Estado - Executivo, Legislativo e Judiciário – como se observa nos sucessivos escândalos que marcam os noticiários políticos dos últimos anos. 
                   Sabe-se que o poder político permeia as relações humanas e sociais de forma intensa e, por vezes, devastadora. Na visão de Jean-Marie Domenach, todos somos, ao mesmo tempo, vítimas e culpados, ao estarmos imersos no mundo da política.  
                    Inúmeros pensadores, tais como: Maquiavel, Locke, Foucault, Bertrand Russel ocuparam-se em discutir as práticas coletivas dos meandros do poder e das ações sociais. Shakespeare vai além. Em Ricardo III, o poder político se apresenta sem disfarces. O bardo inglês realiza a teatralização da política expressando as tensões e paradoxos que atravessam a esfera do poder: o potencial com que a Política pode contribuir ou impedir a melhoria da condição humana. Nesse sentido, a política para Shakespeare é uma atividade tipicamente humana caracterizada pelo binômio: motivação pelo poder e a inevitabilidade do conflito. Surge daí, uma das novidades da nova perspectiva de compreensão da política, ou seja, o reconhecimento da permanência do conflito. Caracterizar, portanto, a política moderna ou contemporânea é entendê-la como jogo de forças opostas resultantes dos inconciliáveis desejos humanos. Tal "choque de interesses" evidencia o caráter trágico do jogo político: conquista, manutenção e perda do poder.
                             Assim o escritor inglês nos ensina, entretém e diverte.  Através da arte teatral fornece elementos constitutivos do homem contemporâneo e suas relações. Essas movidas, muitas vezes, por uma ética individual refletida no uso indiscriminado de inúmeras máscaras como no jogo teatral; múltiplos disfarces agindo conforme interesses ou determinadas circunstâncias. Temos, então, o religioso, o ateu, o humilde, o simples, o culto, o ignorante, o moralista, o liberal, o caipira, o urbano, o ético, o ideológico, o pragmático, o vilão, o herói, o solidário, o benemérito, o sensível, o delicado, o “paz e amor”, etc. Todos, devidamente,  direcionados ao público alvo a ser atingido.
          Na tragédia política Ricardo III captamos essa ética sendo forjada e desenvolvida. Shakespeare nos revela essa “ética” como um instrumento de poder e nos proporciona ironicamente mergulhar em nossas consciências individuais e notar em nosso interior a presença da sede de poder: o complexo Ricardo III.  O teatro moderno representado nas peças de Shakespeare, bem como o exercício da política na contemporaneidade concebe os homens como sujeitos da história impulsionados à participação - uma das exigências da democracia - não se admitindo o desinteresse, a passividade e fundamentalmente a despolitização.
                   


José Renato Ferraz da Silveira



As máscaras do poder

                   A peça Ricardo III escrita por William Shakespeare entre 1592 e 1593, Drama Histórico que goza de enorme popularidade e prestígio pelo vigor poético e temática envolvente. Trata-se de um dos textos mais encenados de Shakespeare e, desde o dia 18 de maio a capital paulista abriga duas montagens simultâneas de profunda sensibilidade nos quesitos interpretação e adaptação. No teatro Ágora, a montagem de Ricardo III é dirigida por Roberto Lage com adaptação do texto por Celso Frateschi que, também, encabeça o elenco de quatorze atores. No teatro da Faap com tradução e adaptação do escritor, humorista e apresentador Jô Soares que dirige elenco de quinze atores.
                   Vivemos uma época em que as práticas e o discurso político são associados à mentira, a farsa, ao engodo de maneira descarada. A ética do indivíduo concebida e desenvolvida no Renascimento se hipertrofiou na contemporaneidade. Notam-se as conseqüências desse ultra-individualismo nas inúmeras doenças culturais que se manifestam na sociedade brasileira: cultura da esperteza, da transferência de responsabilidade, do imediatismo, do negativismo, da vergonha da cidadania, entre outros. Tais comportamentos viciosos proliferam-se na esfera dos três poderes do Estado – Executivo, Legislativo e Judiciário - como se observa nos sucessivos escândalos que marcam os noticiários políticos dos últimos anos. 
                    A tragédia do rei Ricardo III trata da permanente disputa do poder a qualquer preço e a falta de escrúpulos para a conquista e manutenção dele. Nela, o protagonista é um sujeito manco e corcunda, cuja aparência disforme, segundo o próprio, o impede de usufruir dos prazeres da conquista amorosa, mas não alçar vôos mais altos. No solilóquio inicial ele planeja como chegar ao poder mesmo sendo o sétimo na linha sucessória. Para alcançar seu objetivo, se utiliza de expedientes vis: conspira, manipula, explora, promove alianças por conveniências momentâneas, persegue e condena à morte os opositores. Movido pela sede de poder Ricardo III articula-se nas sombras, ao longo dos atos e cenas, até alcançar o triunfo almejado: o trono inglês. Para se livrar de quaisquer suspeitas de seu envolvimento nas tramas e urdiduras palacianas ele faz uso de subterfúgios conhecidíssimos: esconde-se sob o manto da religiosidade, sobriedade e outros artifícios de valores éticos e morais.
          Assim o escritor inglês nos ensina, entretém e diverte.  Através da arte teatral fornece elementos constitutivos do homem contemporâneo e suas relações. Essas movidas, muitas vezes, por uma ética individual refletida no uso indiscriminado de inúmeras máscaras como no jogo teatral; múltiplos disfarces agindo conforme interesses ou determinadas circunstâncias. Temos, então, o religioso, o ateu, o humilde, o culto, o ignorante, o moralista, o liberal, o caipira, o ético, o ideológico, o pragmático, o solidário, o sensível, “o paz e amor”, etc.
         Shakespeare nos revela, através da presente obra, o diálogo entre a política e a arte e, consegue manter, evidentemente, a atualidade da peça para os nossos dias.  E desta forma, compreendemos que tanto o teatro como a política são espaços nos quais somos levados a participar. Ambos exigem engajamento, envolvimento, unidade entre representantes e representados, cumplicidade entre ator (político) e público (cidadãos), não se admite o desinteresse e a passividade. No palco da política sejamos atores e não espectadores, público da tragédia política.
         


A peça Ricardo III e os elementos políticos (pós) modernos
José Renato Ferraz da Silveira

A peça Ricardo III, escrita entre 1592 e 1593, por William Shakespeare trata de uma rica, intricada e complexa rede de temas pertinentes à Teoria política: intrigas; conspirações; comportamentos políticos; conflitos de poder; diálogos embebidos de retórica, persuasão e convencimento político; discursos de guerra; coalizões; violência; astúcia; dissimulação; incertezas; a inevitabilidade do Acaso; as qualidades, virtudes (virtú) e os vícios do príncipe; a potência do agir; audácia; a configuração da tragédia política moderna. A peça tem no seu conteúdo dramático as formas nas quais se revelam as práticas coletivas dos meandros do poder e das ações sociais. Um jogo posto em cena a fim de mostrar os jogos da sociedade que a fazem e desfazem.

Ricardo III é uma peça, que faz parte dos Dramas Históricos - ao todo são nove - constituí-se como a tetralogia da Guerra das Duas Rosas, gozando de popularidade pelo seu vigor e temática envolvente. A frase "Meu reino por um cavalo" se popularizou ao redor do mundo. Esta é uma das célebres frases das peças de Shakespeare. E foi proferida por Ricardo III, personagem da peça que leva seu próprio nome.

O dramaturgo inglês acaba por conceber uma visão política ao teatro. Antes dele, a ação dramática tinha como tema central o relacionamento dos homens com o divino (principalmente os gregos) e, num segundo plano, com a sociedade e com o Estado. Ele inverte o tema de secundário para central.

A dimensão trágica da/na política está presente na maioria das peças de Shakespeare, nas quais o bardo, chamado de "Cisne de Avon" por Victor Hugo, expressa as tensões e os paradoxos que atravessam a esfera do poder político; o potencial com que a Política pode contribuir ou impedir a melhoria da condição humana. "O político não desaparece, ele muda de forma; ele não desaparece porque ele é indissociável do trágico sempre presente, em todos os momentos e em todas as sociedades" (Balandier, 1999: 148).

A essência da tragédia na política está na tensão entre suficiência e insuficiência para permitir um futuro esperançoso. A fonte principal da tragédia shakespeariana foi precisamente à ênfase na queda de homens famosos. Uma das novidades da nova perspectiva de compreensão da política é, portanto, o reconhecimento da permanência do conflito. Não se trata mais de sonhar com sociedades estáticas nas quais se realizaria de uma vez por todas o ideal de estabilidade ao se alcançar à realização do bem comum. O que está se configurando na modernidade é um novo conceito de ordem, não mais uma ordem estática estabelecida a partir de hierarquia prefixada, mas a ordem mundana das relações sociais, ordem construída pelo homem. Mais ainda, essa ordem racional deve ser projeto do Estado.

Caracterizar, portanto, a política moderna é entendê-la como jogo de forças opostas resultantes dos inconciliáveis desejos humanos. A política, como atividade tipicamente humana, é marcada a partir da modernidade, tanto nas peças de Shakespeare, como nos escritos de Maquiavel, como a inevitabilidade do conflito. Tal "choque de interesses" é inerente ao jogo político e evidencia o caráter trágico ao revelar as contradições e os paradoxos deste.

A política, em Shakespeare, nos mostra as (des) ordenadas crises (ciclos de poder - alternância de enfraquecimento e fortalecimento da autoridade) em que o grupo de indivíduos se depara e a busca de soluções por parte destes homens que atuam no círculo (reino) da política.

Shakespeare amplia e realiza uma leitura de política se remontando a um período específico, ao criar artisticamente (peças teatrais), num contexto histórico marcado por profundas mudanças, em que o novo ainda não havia surgido e o velho ainda não havia morrido, nesse sentido, num processo de instauração da modernidade.

Ricardo III é uma peça carregada de signos, significados, valores pertencentes ao Renascimento, período histórico que rompe com o mundo medieval - sociedade agrária, estamental, teocrática e fundiária - mas que contém em seus desdobramentos, elementos políticos fundamentais (como os citados no princípio deste artigo e em negrito) e ainda mais, tão contemporâneos, a ponto de termos (possíveis) parâmetros de análise para entender os impasses e as rupturas do pensamento político atual. Apesar das ambigüidades e incertezas (a auto-eternizante incerteza) da vida pós-moderna, Shakespeare produziu uma peça histórica renascentista, mas que segundo Ben Jonson pertence a todas as épocas, representando de modo peculiar o imanente significado real da política.