sábado, 15 de março de 2014

Em abril, quem sabe próximo do aniversário de Shakespeare - 450 anos - poderei lançar a minha tese de doutorado pela editora Azougue editorial. O livro está na revisão final e tive o privilégio de contar com prefácio do amigo Reginaldo Teixeira Peres e o texto da orelha do livro de Gabriel Cohn. Abaixo o texto de Cohn:

[PARA ORELHA DE CAPA]

Tempos difíceis, tempo de tragédia, tempo de grandes mudanças, quando se entrelaçam destinos pessoais e históricos em registro extremo. É o retrato de tempos assim que é a matéria deste livro. Estão em jogo a tensão e a ruptura dramática entre orientações políticas básicas na passagem da era medieval para a moderna. E quando se fala aqui em dramático é também no sentido literal que se pensa: a tragédia como composição literária destinada à encenação. Isso, na sua expressão mais alta, a de Shakespeare, e numa peça na qual todas as reconfigurações impostas pela mudança de época se condensam, a tragédia de Ricardo II. Também não casual que se fale no livro das “forças imponderáveis do acaso” quando a referência é a uma época em que ruíam as defesas contra a dimensão da contingência nos assuntos humanos. Desde Aristóteles esta era reconhecida como intrínseca à política, mas, no momento da consolidação do poder monárquico no mundo cristão a ela se opôs a concepção da unção divina, imune às contingências terrenas, como fundamento do direito monárquico. Unção que se exprimia na ideia de que ao corpo profano do rei se junta seu corpo sagrado (a doutrina dos “dois corpos do rei”, à qual o autor deste livro recorre nas suas análises). É o período no qual vem a emergir aquilo que Maquiavel colocou no centro da concepção do exercício do poder político que marcaria a modernidade: a ação do homem de valor, de virtú, para dar conta da contingência e, no tempo devido, dobrar a seu favor a inconstância do acaso, da fortuna.   
Como se vê neste livro, ao tratar de Ricardo II Shakespeare mobiliza os grandes temas que dão unidade à sua dramaturgia política, centrada na figura trágica do homem que está no centro da ação e tem sua capacidade de fazer frente aos entrechoques de ambições e paixões continuamente posta à prova. Como sugere o autor, e busca demonstrar pela contextualização histórica da figura de Shakespeare, a qualidade primeira que ele vê no monarca consiste em ser capaz de manter sob controle as ambições e hostilidades daqueles que o cercam. Ser capaz de centralizar e concentrar na sua pessoa o poder, não mais por injunção divina e sim (e aqui cabe Maquiavel) por virtú. Unificar o mando, consolidar a nação; realizar, portanto, a grande tarefa histórica do momento, a da construção do Estado nacional. É esse tema, nas suas diversas dimensões e na transfiguração que lhe confere a grande obra de arte, que se encontrará reconstruído neste livro.



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