segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

QUEM QUER FAZ

QUEM QUER FAZ

O diretor de RH examinou os resultados da avaliação 360 graus com alguma preocupação. Em um departamento, os adjetivos utilizados pelos funcionários para descrever o gerente foram vários, mas todos tinham uma coisa em comum: ele era centralizador. Então fez o que lhe cabe, chamou o gerente para uma conversa:
- A avaliação que seus funcionários fazem do seu estilo de liderança é que você não delega, por isso acumula muitas responsabilidades, o que prejudica o desempenho de seu departamento. Você concorda com eles?
- Eu não sou um centralizador, apenas utilizo um ensinamento de meu avô, que era um homem muito sábio.
- Ah é? E que ensinamento é esse?
- Quem quer faz, quem não quer manda.
Ok, ditados populares são interessantes, engraçados e muitas vezes representam uma verdade, mas devem ser utilizados com reserva, pois eles traduzem a cultura da época em que foram criados. Quando o avô de nosso gerente estava na ativa não havia os conhecimentos de gestão de que dispomos hoje. Se o gerente fizer uma pesquisa, vai descobrir, por exemplo, que, em se tratando de gestão de pessoas, há dois caminhos: gestão por confiança ou gestão por controle. E vai descobrir que a gestão por confiança é muito mais eficiente, instala um bom clima organizacional, eleva o moral do time e melhora o padrão dos resultados.
Apesar disso, muitos gerentes optam por manter suas equipes sob controle. Por quê? Ora, porque criar um clima de confiança exige mais conversa, mais investimento de tempo em seleção e capacitação. Ou seja, dá mais trabalho. É mais fácil mandar, cobrar e apontar culpados.
- Que bom que você teve um avô sábio – ponderou o diretor – mas eu vou atualizar o ditado, afinal, você sabe, o mundo evoluiu.
- Claro – disse o gerente – estou disposto a aprender.
E mais não disse, apenas colocou o nome do gerente na lista de reciclagem em gestão de pessoas.

Eugenio Mussak é professor do MBA da FIA e consultor da SAPIENS SAPIENS. eugenio@ssdicom.br

TOP TEN DOS ARTIGOS DE 2010

Tradição político-militar e dinâmica econômica do Japão feudal e atual

Juliana Graffunder Barbosa*


RESUMO


O presente artigo aborda o sistema feudal japonês, especificamente o Período Edo ou Tokugawa, onde se encontram as origens da modernidade advinda com a Revolução Meiji, e faz um contraponto com o Japão da atualidade, uma potência econômica, que conserva sua tradição militar e impõem-se politicamente no contexto global em que vivemos.
O objetivo da análise é identificar como foi constituído o Estado militar durante o período feudal, como este exerceu dominação e de que forma a transição do feudalismo ao capitalismo pode ser efetuada no Japão. Desta forma será possível atentar quais foram os seus elementos estruturais que perduraram até os dias atuais e auxiliaram os japoneses a se consolidarem como potência, influindo o mundo e impactando nas decisões da contemporaneidade.



Palavras-chave: Japão, feudalismo, economia, política, potência.

Zuckerberg: um bom exemplo

Zuckerberg: um bom exemplo


Agora que estou de férias, tenho tempo para ler as melhores publicações internacionais, entre elas a revista TIME. Anualmente, a publicação americana elege a personalidade do ano – a pessoa que por sua contribuição à sociedade é reconhecida por ajudar o mundo. Este ano foi o escolhido é Mark Zuckerberg, fundador do Facebook.
Mark nasceu em 1984 e foi escolhido como a pessoa que mais transformou o mundo em 2010.
A rede de relacionamentos criados por ele conecta hoje 550 milhões de pessoas no mundo. A escolha do fundador do Facebook tem duas conotações muito importantes. Primeiro, Mark pertence à geração Y, os nascidos entre 1979 e 1999. Antes dele, poucos foram os jovens escolhidos pela TIME. Segundo, ele é um empreendedor. Ou seja, é um jovem que não seguiu o caminho tradicional, de escolher um bom emprego ao sair de uma excelente universidade – ele cursou Harvard. Mark optou por construir seu futuro, por empreender uma idéia, e esta é uma influência muito positiva sobre outros jovens que ainda estão planejando a carreira.
Outra característica dos Ys, que não é apenas atributo de Mark, é a sua ética de trabalho hedonista: “Eu preciso ter prazer para cumprir meu dever”. Diferente da ética do dever, que é característica dos baby boomers, pessoas nascidas entre 1946 e 1964, que acreditam que o que importa é cumprir a tarefa. O que a geração Y quer é um ambiente de trabalho no qual haja prazer em trabalhar. Assim são, fisicamente, as companhias Ys, como o Facebook e o Google. As paredes são coloridas, os ambientes são abertos, as salas são coletivas e os símbolos de status desaparecem.
A escolha de Mark Zuckerberg como personalidade do ano traz um enorme sopro de otimismo, principalmente depois de quase três anos de crise mundial. O rosto sorridente de um jovem de 26 anos, um dos homens mais ricos do mundo, enche de alegria quem olha. Um jovem simples, inteligente, com boa formação e que nas férias foi com a família ao parque da Universal ver o Harry Potter. Um ser humano normal, que chegou ao sucesso por seu esforço e dedicação. Um bom exemplo.

Luiz Carlos Cabrera é professor da Eaesp-FGV, diretor da Amrop Panelli Motta Cabrera e membro do Advisory Board da Amrop International

TOP TEN DOS ARTIGOS DE 2010

Das Grandes Navegações à Globalização

Êmily de Amarante Portella e Letícia Rossi Ortiz

RESUMO
As Grandes Navegações iniciaram uma nova época na história mundial. O conhecimento do mundo amplia-se significantemente com as descobertas de além-mar. Homens e civilizações sofreram grande impacto e nunca mais seriam os mesmos, tanto no Novo quanto no Velho Mundo. E tais transformações entrariam numa crescente e exponencial evolução até os dias contemporâneos, pois as Grandes Navegações Européias deram início a Globalização. Palavra tão em voga atualmente, a Globalização é por definição o intercâmbio de informações e processos entre todas as regiões do globo. Esse intercâmbio começou com a Carta de Pero Vaz de Caminha, com os Cronistas dos Descobrimentos, com os diários de bordo, com os relatórios e cartas que cruzavam os oceanos.

Palavras-chave: Grandes Navegações, Expansão Européia, Expansão Marítima, Descobrimentos, Globalização.

INFORMAÇÃO E LIBERDADE

INFORMAÇÃO E LIBERDADE


No ano de 1933, pouco depois da ascensão de Adolf Hitler ao poder, inúmeros livros considerados impróprios pelo governo alemão foram queimados publicamente em uma insigne demonstração de intolerância às divergências ideológicas. Esse fato, infelizmente, ilustra uma prática comum na maioria dos regimes políticos da Antiguidade até hoje. A censura à informação mostra suas nefastas garras até mesmo em nossa tão cultuada democracia.

Essa reflexão foi suscitada desde que comecei a ler a obra “Mein Kampf” – uma autobiografia cujo autor é apontado como o maior sanguinário do século XX. Nela, Hitler esboça sua vida no interior da Áustria, em Viena e em Munique, bem como os principais preceitos ideológicos do, então recém formado, Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Por razões óbvias, após o colapso da Alemanha nazista, esse livro foi proscrito em muitos países. O destino, às vezes irônico, traçou-lhe o mesmo futuro que o daqueles condenados por seu escritor.

Ainda que “Minha Luta” seja permeado por conceitos tacanhos, beligerantes e racistas, trata-se de um documento a que todos deveriam ter acesso ilimitado. Como sabiamente frisou Nélson Jahr Garcia, essa obra tornou-se a maior arma contra os impropérios do nazismo. Nesse caso, a restrição à liberdade destoa de nosso maior anseio: a luta pela liberdade.

Somente uma sociedade livre e bem informada será capaz de canalizar forças, visando a construção de dias mais justos e igualitários. Em todas as tiranias ou democracias dilapidadas, a informação fora o alvo precípuo de toda a ira dos poderosos. Livros proibidos, intelectuais perseguidos, políticos opositores banidos da vida pública, assim como a mordaça aos críticos imperaram na tentativa de “adestramento” das massas. De forma explícita ou não, a vileza de tais atos resistem ao tempo.

Não nos enganemos, entretanto, com a clarividência da repressão. Seus métodos idílicos e sutis, comumente, ocultam-se sob as vestes constitucionais. Felizmente, no Brasil, a draconiana Lei de Imprensa fora extinta de nossa realidade por cercear a liberdade e ser incompatível com a Constituição de 1988. Todavia, resquícios do autoritarismo dos “Anos de Chumbo” subsistem na antipatia que muitos nutrem pela imprensa.

O exercício de investigação jornalística, desde que responsável, é um atributo imensurável e indelével de quaisquer sistemas políticos que visam a proteção dos indivíduos. A liberdade de expressão persiste, pois, como um horizonte a ser alcançado pelas futuras gerações.

Guilherme Backes

O marxismo-leninismo ainda vive?

O marxismo-leninismo ainda vive?


Em um ano eleitoral como este, nada mais natural e salutar do que refletir e escrever sobre a política brasileira, bem como seus desafios, seus principais debates ideológicos e suas contradições. Indubitavelmente, um dos temas que mais chama a atenção dos diletantes das relações políticas são as divergências e os embates que ocorrem dentro da própria esquerda. No entanto, essa tendência à auto-fragmentação existe desde os tempos de Rosa Luxemburg, Lênin e Kautsky.
Nos áureos tempos do movimento socialista alemão, as dúvidas pairavam sobre qual método deveria ser escolhido a fim de que a sociedade européia trilhasse, da maneira mais eficiente possível, o seu caminho rumo ao socialismo. De um lado, posicionavam-se os marxistas mais ortodoxos e dogmáticos, tais como Luxemburgo e Lênin. Suas concepções pregavam a extirpação do capitalismo pela via revolucionária. Sua lógica centrava-se na necessidade de desmantelamento da “democracia formal burguesa” para que a igualdade fosse, de fato, colocada em prática, sob o estabelecimento da ditadura do proletariado. No entanto, entre os revisionistas do marxismo dentro do SPD (Partido Social-Democrata Alemão), um dos grandes expoentes era Karl Kautsky, muitas vezes ridicularizado pela esquerda internacional. Para esse renegado, a via reformista era a tônica da ação socialista, em um contexto de melhorias da qualidade de vida dos trabalhadores, de inclusão dos mais pobres na democracia política e de abrandamento dos conflitos entre as diferentes classes sociais.
Após essa breve análise histórica do pensamento marxista, pode-se inferir que a própria história mostrou quem estava certo nesse debate. O que se vê atualmente é o êxito do reformismo e o fracasso da revolução socialista em todo o mundo. O próprio Brasil é um exemplo disso, porquanto a democracia não fora restabelecida pela via armada, mas sim por meio de um processo gradual, moroso e, muitas vezes, estafante. A nova esquerda está ciente disso e não prega mais a destruição do capitalismo, por mais injusto que possa ser ele. O fato é que vivemos em uma atmosfera de conquistas sociais e políticas, em que as liberdades individuais e as instituições democráticas são a tônica de nossas relações políticas. A luta por dias melhores deve ser, portanto, travada dentro do jogo democrático, com o respeito às regras previamente estabelecidas.
Entrementes, a senilidade e o anacronismo de muitos camaradas ainda agonizam e lutam contra essas evidências. O que mais impressiona nisso tudo é a incapacidade da ortodoxia marxista-leninista em compreender que vivemos sob a tutela de um novo capitalismo, diferente, em muitos aspectos, do que Marx e outras “autoridades” conheceram. Esse romantismo obtuso e inconseqüente serve, por conseguinte, como uma mera válvula de escape da realidade, completamente imune de valores práticos ou de propostas viáveis. Nada mais do que isso, já que seus eloqüentes e fervorosos discursos contra o capital e a propriedade privada ecoam apenas como últimos suspiros de uma esquerda sepultada pela própria história da luta de classes. Sendo assim, o rancor e o ódio a essa inexorável realidade apenas anulam a capacidade de adaptação dessa velha esquerda, limitada pelo seu idealismo intransigente.

Guilherme Backes – acadêmico do curso de Relações Internacionais da UFSM e membro do núcleo de pesquisa PRISMA.

TOP TEN DOS ARTIGOS DE 2010

PARADIGMAS E AGENDA: CONTRIBUIÇÕES DAS TEORIAS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS PARA O ESTUDO DOS DIREITOS HUMANOS

Leonardo Augusto Peres

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivos apresentar a disciplina de Relações Internacionais (RI) e ponderar sobre a possibilidade de sua influência no estudo dos direitos humanos, ou seja, se os direitos humanos fazem parte ou não da agenda internacional contemporânea. Faz-se uma breve história desse campo de estudos e destaca-se suas particularidades, diferenciando-o do Direito Internacional. Explica-se o que são as teorias (ou paradigmas) das RI e como duas delas, o Realismo e o Liberalismo, podem esclarecer por que os Estados assinam tratados de direitos humanos e garantem-nos a seus cidadãos.

A POLÍTICA EXTERNA COMO ESFERA AUTÔNOMA DA MORAL

A POLÍTICA EXTERNA COMO ESFERA AUTÔNOMA DA MORAL

Com o desmoronamento da ordem mundial baseada na bipolaridade entre os EUA e a URSS e a intensificação da globalização em suas vertentes econômica, cultural e política, refletir sobre o complexo sistema das relações internacionais tem-se tornado frequente e necessário. Em um ano eleitoral como este, o interesse do eleitorado pela política externa bem como os intensos debates em torno desse mesmo eixo são salutares para nossa democracia, em intenso processo de consolidação. Analisando os debates entre os principais candidatos à presidência da República, nota-se que uma das mais eminentes divergências diz respeito à relação diplomática entre Brasil e Irã. Quanto a isso, a despeito da complexidade do assunto, algumas pequenas ponderações devem ser feitas a fim de que o tema seja amplamente compreendido. Longe de qualquer soberba pretensão, faço uso deste espaço com o intuito de problematizar aquilo que vem sendo alvo de acalorados debates técnicos e, principalmente, políticos.
Primeiramente, torna-se fundamental mencionar aqui a palavra moral. Não obstante a falta de consenso entre os filósofos em definirem a acepção desse termo, podemos entendê-la como, nas palavras de Frankena, um “sistema de normas sociais sob as quais os indivíduos se veem ao longo de toda a vida”. Sendo assim, a moral não é simplesmente imposta de maneira coercitiva aos indivíduos, já que eles aceitam a legitimação desses valores, ora utilizados para uma estável convivência em plena sociedade civil. No entanto, quando essa rede de normas sociais é infringida, surge o que Frankena chama de “pressão social”. Nesse caso, as sanções podem ser o vitupério, o asco e a fobia, mas não a força (o que distingue a moral do direito, por exemplo).
Indubitavelmente, a moral, como um sistema de regulamentação, faz-se necessária a nossa sociedade, estabelecendo, por conseguinte, padrões de convivência e restringindo possíveis excessos e sobreposições de interesses privados. No entanto, como a moral deve ser entendida no plano das relações internacionais e, mais do que isso, teria ela a capacidade de nortear as ações de um Estado soberano em suas relações com os demais pares estatais?
Certamente, muitos anuirão com minha proposta de socorrer-me com os escritos de Nicolau Maquiavel. Esse grande estudioso das relações políticas foi taxativo em afirmar que a política em nada se relaciona com a religião, com o direito, e tampouco com a moral. O príncipe, segundo esse florentino do século XVI, “não deve se importar com se expor à infâmia dos vícios sem os quais seria difícil salvar o poder. Porque, considerando-se bem tudo, há coisas que parecem virtude e acarretam a ruína, outras que parecem vício e, com elas, obtêm-se a segurança e o bem-estar”. Não faço aqui, caro leitor, uma justificativa para os lamentáveis atos escusos e corruptos em nossa tão difamada política tupiniquim. O que afirmo, pois, é que a política externa de qualquer país não depende de valores morais, por mais louváveis que possam ser. Ainda que seja praticamente consensual no mundo ocidental que a democracia deve ser a tônica de nossas instituições políticas e sociais - fato identificado pelo professor Ricardo Seitenfus como a “ditadura da democracia”-, os interesses de Estado não devem ser pautados por questões morais. Com um comércio bilateral passível de crescimento, Brasil e Irã devem manter relações amistosas, visto que nosso país pode auferir somas financeiras significativas aos seus cofres.
Importante frisar que o caso Brasil-Irã serve como um mero exemplo ilustrativo de minha opinião, visto que não possuo nenhuma simpatia ideológica pelo regime despótico e autoritário da teocracia iraniana. Entretanto, tais antipatias políticas não devem obliterar nossas capacidades de discernimento e de exame sobre os reais interesses de um Estado soberano. No “jogo politico das relações internacionais”, a história já nos mostrou incontáveis vezes que os preconceitos, a inflexibilidade e o apego a certos dogmas acabaram restringindo a capacidade de ação de muitos chefes de Estado.
Com a finalidade de melhor explicar esse ponto de vista, atenho-me ao exemplo de Otto Von Bismarck, o responsável pela unificação alemã em 1871. Mesmo sendo um “vigoroso adversário da revolução liberal de 1848”- conforme discorre Henry Kissinger sobre a personalidade do Chanceler de Ferro -, Bismarck não hesitou em flexibilizar seus valores conservadores, em favor da exploração das situações políticas existentes, visando sempre os interesses da Prússia. A despeito de sua ojeriza pessoal pelos valores liberais e democráticos, manteve uma política externa flexível, buscando sempre a unificação da Alemanha, sob a égide das instituições e da sociedade militaristas da Prússia. Distinguindo noções pessoais de noções políticas e “relativizando todas as crenças”, Bismarck alcançou um dos maiores objetivos dos alemães – a unificação do país. Mesmo que desde Richelieu, o objetivo central da política externa francesa tivesse sido evitar a unificação da Alemanha, o chanceler estabeleceu uma política amistosa com Napoleão III até o limite – quando na Guerra Franco-Prussiana (1870-1871), o último óbice à unificação alemã sucumbiu.
Como nos ensina Maquiavel, a história é a “mestra da vida”, “a verdade efetiva das coisas”. Não devemos, portanto, abrir mão de seus ensinamentos, de modo que os exemplos do passado sejam ignorados pelas ações do presente. Obviamente, o Estado brasileiro não deve ser condescendente com quaisquer práticas no âmbito externo, sob a justificativa baseada na independência da política frente a questões morais. O que mais importa, todavia, é entendermos que as relações diplomáticas e comerciais não devem ser estabelecidas por meio de inferências mal fundamentadas. Caso insistíssemos na falta de pragmatismo político em prol dos louváveis valores democráticos e liberais, nem mesmo os Estados Unidos mereceriam nossa confiança, haja vista os diversos acontecimentos de explícito desrespeito às liberdades individuais nesse país. O que fica claro para profissionais das Relações Internacionais e demais interessados é que o radicalismo – nem mesmo o radicalismo democrático – não é capaz de obter bons frutos na esfera política. Portanto, é um imperativo desse “jogo político” que a flexibilização, a prudência, o pragmatismo e o diálogo sejam estabelecidos como eixos fulcrais na busca pelos interesses do Estado brasileiro.

Guilherme Backes – acadêmico do curso de Relações Internacionais da UFSM

TOP TEN DOS ARTIGOS DE 2010

A GRÃ-BRETANHA DIANTE DO ENFRAQUECIMENTO DE SEU PODERIO
HEGEMÔNICO
*Guilherme da Cruz Backes
RESUMO

O presente artigo tem como objetivo analisar o processo de dissolução da
hegemonia britânica, cujo marco inicial é a “Grande Depressão” de 1873-95, culminando
com o desfecho da Segunda Guerra Mundial, quando duas novas potências hegemônicas
passaram a dominar as relações internacionais, em um sistema de bipolaridade – a Guerra Fria. O que é verificado nesta análise é a lacuna de poder, desde a Paz de Versalhes até a Conferência de Yalta, porquanto a Grã-Bretanha lutava contra seu gradativo enfraquecimento, a Alemanha fora derrotada em duas guerras mundiais e os Estados Unidos não assumiam sua posição de verdadeira potência mundial, primando pelo
isolacionismo da Doutrina Monroe. Além disso, importante frisar que esse processo de
transição teve como causas e conseqüências o esboroamento também de instituições
típicas da sociedade do século XIX, quando a Grã-Bretanha dominava o cenário mundial.

Palavras-chave: Grã-Bretanha; Estados Unidos; União Soviética; Alemanha,
liberalismo econômico; equilíbrio de poder; padrão-ouro.

Acadêmico do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e pesquisador do Núcleo PRISMA.

Simples e muito bem explicado

SIMPLES E MUITO BEM EXPLICADO

Um professor de economia na universidade Texas Tech disse que nunca reprovou um só aluno antes, mas tinha, uma vez, reprovado uma classe inteira.
Esta classe em particular tinha insistido que o socialismo realmente funcionava: ninguém seria pobre e ninguém seria rico, tudo seria igualitário e 'justo. '

O professor então disse:
Ok, vamos fazer um experimento socialista nesta classe.. Ao invés de dinheiro, usaremos suas notas nas provas. Todas as notas seriam concedidas com base na média da classe, e portanto seriam 'justas.
Com isso ele quis dizer que todos receberiam as mesmas notas, o que significou que ninguém seria reprovado. Isso também quis dizer, claro, que ninguém receberia um "A"...

Depois que a média das primeiras provas foram tiradas, todos receberam "B". Quem estudou com dedicação ficou indignado, mas os alunos que não se esforçaram ficaram muito felizes com o resultado.
Quando a segunda prova foi aplicada, os preguiçosos estudaram ainda menos - eles esperavam tirar notas boas de qualquer forma. Aqueles que tinham estudado bastante no início resolveram que eles também se aproveitariam do trem da alegria das notas. Portanto, agindo contra suas tendências, eles copiaram os hábitos dos preguiçosos.. Como um resultado, a segunda média das provas foi "D". Ninguém gostou.

Depois da terceira prova, a média geral foi um "F". As notas não voltaram a patamares mais altos mas as desavenças entre os
alunos, buscas por culpados e palavrões passaram a fazer parte da atmosfera das aulas daquela classe. A busca por 'justiça' dos alunos tinha sido a principal causa das reclamações, inimizades e senso de injustiça que passaram a fazer parte daquela turma. No final das contas, ninguém queria mais estudar para beneficiar o resto da sala. Portanto, todos os alunos repetiram o ano... Para total surpresa !!!

O professor explicou que o experimento socialista tinha falhado porque foi baseado no menor esforço possível da parte de seus participantes. Preguiça e mágoas foi seu resultado. Sempre haveria fracasso na situação a partir da qual o experimento tinha começado.

"Quando a recompensa é grande", ele disse, "o esforço pelo sucesso é grande, pelo menos para alguns de nós. Mas quando o governo elimina todas as recompensas ao tirar coisas dos outros sem seu consentimento para dar a outros que não batalharam por elas, então o fracasso é inevitável."

Filme Elisabeth

ELISABETH

TÍTULO DO FILME: ELISABETH
DIREÇÃO: Shekhar Kapur
ELENCO: Cate Blanchett, Geoffrey Rush, Christopher Eccleston, Joseph Fiennes, Richard Attenborough.
125 min.

RESUMO

O filme analisa a Inglaterra absolutista de Elizabeth I (Isabel, a Rainha Virgem), que subiu ao trono em 1558 para tornar-se a mulher mais poderosa do mundo.

No reinado anterior de sua meia irmã Mary I, a Inglaterra encontrava-se à beira do caos com a repressão do governo aos protestantes. Com a morte de Mary, Elisabeth Tudor, filha de Henrique VIII (o rei das seis esposas), com Ana Bolena, assume o comando do reino, iniciando o mais glorioso governo da Dinastia Tudor.

Para impedir que o país fosse destruído, Elizabeth decide enfrentar todos inimigos internos e externos que ameaçavam a Inglaterra, abdicando de sua própria vida pessoal em nome de seu povo.

Interpretado por Cate Blanchett, que recebeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz em 1998, o filme retrata um período de forte tensão na história da Inglaterra e da Europa, mostrando as intrigas palacianas, que transformaram a jovem Elizabeth, conhecida como a Rainha Virgem, na mulher mais importante de sua época.

CONTEXTO HISTÓRICO

Na passagem da Idade Média para Moderna ocorre o processo de centralização do poder político, com o surgimento das monarquias nacionais, quando os reis começaram a concentrar o poder em suas mãos. Esse processo encontra três momentos bem demarcados: uma fase feudal, onde os reis assumem um maior destaque entre seus vassalos, transformando o poder de direito em poder de fato; uma fase moderna (entre os séculos XV e XVI), onde os monarcas criam suas próprias instituições, como exércitos, leis e moedas nacionais; uma fase de consolidação (entre os séculos XVI e XVII), onde a burocratização atinge seu apogeu, definindo o conceito moderno de Estado.

Na Inglaterra em meados do século XVI, o governo da rainha Elizabeth, representa o apogeu do absolutismo. A consolidação de uma monarquia absolutista, centralizada, foi um elemento importante para o notável desenvolvimento econômico do país no século XVII. Para isso, os governos de Henrique XVIII e de sua filha Elizabeth I, foram decisivos, pois unificaram o país, dominaram a nobreza, afastaram a ingerência do poder papal, criaram a igreja nacional inglesa, confiscaram as terras da Igreja Católica e obtiveram êxito na disputa de domínios coloniais com os espanhóis.

Filha de Henrique VIII e Ana Bolena, Elizabeth assumiu o poder em 1558, após a morte de sua meia irmã Maria Tudor, governando a Inglaterra até 1603. Sua forma absoluta de governo, sempre tentou evitar a convocação do Parlamento, criado pela Magna Carta de 1215, de quem dependia a aprovação da cobrança de impostos. O Igreja Anglicana, criada na Inglaterra por Henrique VIII, que mesclava características católicas e calvinistas, foi utilizada com sabedoria pela rainha, que valorizando o conteúdo calvinista, pressionava a nobreza (de maioria católica), ao mesmo tempo em que obtinha apoio da burguesia (de maioria calvinista).

Elizabeth I demonstrou todo seu poder, quando mandou decapitar sua prima católica Mary Stuart, rainha deposta da Escócia, apoiada pelo papa e pelo rei FilipeII da Espanha. Em 1558, ao destruir a Invencível Armada enviada pelos espanhóis, contribuiu para o início da hegemonia inglesa na navegação e no comércio internacional com o estímulo para construção naval, resultando num grande avanço econômico, com destaques para indústria de tecidos de lã e para exploração das minas de carvão. A formação da Companhia das Índias Orientais dominou grande parte do tráfico de escravos africanos para a América. A concessão de monopólios protegia as companhias comerciais e a elevação de impostos alfandegários garantia o êxito da indústria de manufaturas.

A prosperidade econômica dinamizou a sociedade, onde a nobreza progressista, (gentry), visando ampliar suas áreas de pastagem, levou a aprovação dos cercamentos (enclousures), liberando mão de obra barata no campo, absorvida posteriormente nas cidades pelo processo de industrialização. Os pequenos agricultores, camponeses com posse mas sem a propriedade legal da terra (yeomen), passam a produzir para o mercado e os artesãos tiveram suas atividades regulamentadas em 1653 pelo famoso Estatuto dos Artesãos. Em 1572 é aprovada a a Lei dos Pobres, obrigando o pagamento de um imposto aos habitantes das comunidades para amparar a população mais pobre.

No contexto de transição para a Idade Moderna o reinado de Elizabeth I foi fundamental para desintegração do feudalismo, onde a frágil monarquia medieval evoluiu na direção de uma monarquia centralizada e forte, contribuindo para expansão do capitalismo.

A teoria de equilíbrio de poder

A Teoria de Equilíbrio de Poder

Para muitos estudiosos da política internacional, a Teoria de Equilíbrio de poder, também conhecida como Teoria do Balanço de Poder, é o que próximo existe de uma teoria política das relações internacionais.
Na era moderna, com o surgimento e o desenvolvimento do Estado-nação, multiplicaram-se também as teorizações a respeito das relações internacionais. Em um contexto de anarquia internacional e de conflito entre os Estados, as práticas dos agentes e dos atores no sistema internacional levaram à formulação de uma teoria que pode ser considerada a precursora da análise convencional realista das relações internacionais, a Teoria de Equilíbrio de Poder.
A teoria de equilíbrio de poder percebe o cenário internacional em um situação de equilíbrio, no qual o poder é distribuído entre os diversos Estados. Quando um Estado começa a se destacar e a buscar aumentar seu poder frente aos demais, há uma perturbação no equilíbrio, e faz-se necessária uma coalizão das Potências para conter o Estado “pretensioso” e restaurar a ordem. Assim, pressupondo o Estado como um ator racional, a teoria defende que o balanço ou equilíbrio de poder é a escolha preferível e, portanto, a tendência do sistema internacional. A Teoria orientou as relações internacionais nos quatro séculos compreendidos entre a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) e a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Foi útil para justificar as condutas dos Estados e ações de governantes em um contexto anárquico e conflituoso.
Alguns autores distinguem entre o equilíbrio de poder como uma política (esforço deliberado para prevenir predominância, hegemonia) e como um padrão da política internacional (em que a interação entre os Estados tende a limitar ou frear a busca por hegemonia e, como resultado, há um equilíbrio geral).
A partir da 1° Guerra Mundial e as conseqüentes mudanças no cenário internacional e no equilíbrio de forças, em virtude dos traumas causados pelo conflito e do desenvolvimento do discurso pacifista junto à opinião pública, a Teoria do Equilíbrio de Poder foi questionada.
Se a guerra deve ser evitada a todo custo, essa doutrina não poderia perdurar num sistema a qual se fundamenta no Direito Internacional, na solução pacífica das controvérsias e na busca de uma estrutura supranacional que garantisse a paz: o Idealismo das Relações Internacionais.

As evoluções da era moderna

As evoluções da era moderna

Quais são, a nosso ver, os acontecimentos que vão modificar as mentalidades, em especial, a ideia do indivíduo e de seu papel na vida cotidiana da sociedade?
Três fatos externos, ligados à grande história político-cultural, são relevantes. O mais importante é, talvez, o novo papel do Estado, que a partir do século XV não parou de se impor sob modos e meios diferentes. O segundo fato é o desenvolvimento da alfabetização e a difusão da leitura sobretudo graças à imprensa. Por fim, terceiro fato, o mais bem conhecido e que não deixa de ter relação com os dois anteriores, as formas novas de religião que se estabelecem nos séculos XVI e XVII. Elas desenvolvem uma devoção interior – sem excluir, muito pelo contrário, outras formas coletivas da vida paroquial -, o exame de consciência, sob a forma católica da confissão ou a puritana do diário íntimo. Entre os laicos, a oração cada vez mais assume a forma da meditação solitária num oratório privado ou simplesmente num canto do quarto, num móvel adaptado para esse fim, o genuflexório.
Distinguirei seis categorias de dados importantes que agrupam em torno de elementos concretos as mudanças ocorridas e permitem apreendê-las sob uma forma elementar:
1) A literatura da civilidade é um dos bons indicadores de mudança, pois nela vemos os costumes dos cavaleiros medievais se transformar em regras de savoir-viver e código de polidez. Uma atitude nova em relação ao corpo, ao próprio corpo e ao de outro. Já não se trata de saber como um rapaz deve servir à mesa ou servir o patrão, e sim de estender ao redor do corpo um espaço preservado a fim de afastá-los de outros corpos, furtá-lo ao contato e ao olhar dos outros. Assim, as pessoas param de se abraçar, ou seja, de se jogar nos braços umas das outras, de beijar a mão, o pé, de se lançar “de barriga no chão” perante uma dama que querem homenagear. Essas demonstrações veementes e patéticas são substituídas por gestos discretos e furtivos; não se trata mais de parecer nem de se afirmar aos olhos dos outros, porém, ao contrário de lembrar aos outros apenas o necessário para não se fazer esquecer totalmente, sem se impor por um gesto excessivo. A literatura da civilidade, a maneira de tratar o próprio corpo e o dos outros explicam um pudor novo, uma preocupação nova em esconder determinadas partes do corpo, determinados atos, como a excreção. Foi-se o tempo em que os homens, no século XVI, cobriam o sexo com uma prótese que servia de bolso e mais ou menos simulava a ereção. Também repugnará deitar os recém-casados em público em seu leito na noite de núpcias e voltar a seu quarto na manhã seguinte. Esse novo pudor, acrescentado a proibições antigas, chega mesmo a dificultar o acesso do cirurgião ao leito da parturiente, local de reunião essencialmente feminino.
2) Outro indicio de uma vontade mais ou menos consciente, às vezes obstinada, de se isolar, de se conhecer melhor através da escrita, sem necessariamente comunicar esse conhecimento a outros, exceto aos próprios filhos para que o guardem na memória, e muitas vezes mantendo as confidências em segredo e exigindo que os herdeiros as destruam: são o diário íntimo, as cartas, as confissões de modo geral, a literatura autógrafa que atesta os progressos da alfabetização e uma relação estabelecida entre leitura, escrita e autoconhecimento.
3) O gosto da solidão. Durante muito tempo considerou-se que um homem de elevada posição nunca devia ficar sozinho – a não ser para rezar. Os mais humildes tinham tanta necessidade de companhia quanto os grandes: a pior pobreza era o isolamento, tanto que o eremita a procurava como privação e ascese. A solidão gera o tédio: é um estado contrário à condição humana. No final do século XVII as coisas já não são assim.
4) A amizade. Essa tendência à solidão convida a partilhá-la com um amigo querido, selecionado no círculo habitual, em geral mestre, patente, servidor ou vizinho, especialmente escolhido, apartado dos outros. Um outro eu. A amizade já não é apenas a fraternidade de armas dos cavaleiros da Idade Média; no entanto, há muitos vestígios dela na camaradagem militar dessas épocas em que as guerras ocupam a nobreza desde a mais tenra idade. É um sentimento mais polido, um relacionamento tranqüilo, uma prazerosa fidelidade, com toda uma gama de variedade e de intensidade.
5) Todas essas mudanças conjugadas e muitas outras contribuem para uma nova maneira de conceber e levar a vida cotidiana, não mais ao acaso das etapas, da utilidade mais banal, ou ainda como complemento da arquitetura e da arte, e sim como uma exteriorização de si mesmo e de valores íntimos que cada um cultiva em si. Isso levou a dar muita atenção e a dispensar muitos cuidados ao que acontecia na vida cotidiana, dentro de casa ou no próprio comportamento e a introduzir exigências de refinamento que demandam tempo e monopolizam o interesse – é o gosto, que se torna então um autêntico valor.
6) A História da casa resume, talvez, todo o movimento dessas constelações psicológicas que acabamos de mencionar, suas inovações e contradições. É uma história muito complexa, e só podemos assinalar sua importância. a) a dimensão dos cômodos; b) a criação de espaços de comunicação; c) a especialização dos aposentos; d) a distribuição do calor e da luz.

A modernidade: o desejo da evolução e o triunfo da vontade

A Modernidade: o desejo da evolução e o triunfo da vontade

Entre o nascimento do Estado moderno (século XVI) e a Revolução Francesa (1789), a emergência da modernidade (humanismo, mudanças nos valores, hábitos, ideias, comportamentos, fortalecimento do Estado, grandes navegações, Reforma e Contra Reforma Religiosa) leva o homem a uma dignidade inédita de poder que não se funda mais sobre uma hierarquia cósmica garantida por uma transcendência. É bem verdade que a concepção hierárquica de mundo ganha nova interpretação, retificada pelo modelo de investigação das ciências naturais, então constituídas que nos distanciam do pensamento medieval.
É doravante na arte, religião, técnica, filosofia, ciência, educação, no qual o homem moderno valorizará a capacidade de agir e pensar por conta própria, sem a tutela de qualquer autoridade: confiança na razão, exercício do espírito crítico, percepção de uma realidade dinâmica em constante processo, disposição para transformar o mundo.
A força política efervescente marcada por uma vontade de protesto ante as ameaças do arbitrário e do despotismo, apoiada, em segundo lugar, no conflito da Reforma e da Contra Reforma leva à separação do religioso e do político. Pois é assim a afirmação da liberdade da consciência contra as intolerâncias que redefine o homem dessa época de revivificação cultural, tendo em vista vários horizontes lingüísticos e culturais (depois “nacionais”), a origem dos Estados e seu fim (o bem comum), os jogos de poder, a submissão das Igrejas a fim de preservar a paz civil, o aperfeiçoamento da figura humana, a segurança e a proteção da propriedade individual.
Fundar o novo é a busca insaciável do ímpeto ocidental. O milagre europeu não lamenta sua impotência, sabe aproveitar as ocasiões e não hesita mais em solicitar e demonstrar o triunfo da vontade.


José Renato Ferraz da Silveira

INTERVENÇÃO OU INTIMAÇÃO DIVINA

INTERVENÇÃO OU INTIMAÇÃO DIVINA

Gente, fui aprovado!
Foi aos berros que entrei na cozinha naquela manhã para noticiar a minha entrada como docente em uma Universidade Federal no sul do país. Infelizmente a tática de esperar na cama e aguardar que todos estivessem reunidos para o desjejum dera em nada. No local, junto a pia, encontrava-se apenas minha mãe. Ela cantarolava baixinho.
Diacho, onde está todo mundo, pensei irritado comigo mesmo por não ter esperado mais um pouco na cama.
Mamãe não disse nada ante minha chegada intempestiva. Apenas se virou lentamente e fixou os olhos em mim enquanto enxugava, torcia e retorcia as mãos no avental. Em silêncio. Em choque. Em transe.
Fiquei incomodado com a reação dela. Eu que esperava gritos, sorrisos, beijos e abraços, muitos abraços murchei como uma uva passa. Que me importava que o pessoal da casa estivesse dormindo às 11 horas da manhã? Diante de mim, a principal incentivadora da minha vida profissional estava calada. Nenhum afago. Nenhum sorriso. Nenhuma lágrima. Fiquei incomodado com a reação dela. Bah, mas quem entende as mulheres? Ou melhor, quem compreende as mães? Pois naquele exato instante estava eu diante de uma completa estranha. À minha frente estava uma mulher morena, pequena e baixa de olhar sereno e lábios cerrados me olhando. E eu olhando para ela. Senti que algo ou alguém havia usurpado o corpo daquela que me concebera. Não reconhecia nela aquela mulher guerreira que durante anos me motivara, auxiliara e sacrificara tantas e tantas vezes. Balancei a cabeça atarantado. E veio à mente a conhecida história familiar. Em meados dos anos 78, após conclusão de um curso de especialização no Rio de Janeiro, meu pai cuja alma gaúcha não esconde de ninguém, teve oportunidade de escolha para ser transferido para Santa Maria. Acontece que a senhora gravidíssima do filho que agora escreve não aceitou de jeito nenhum. “Frio, muito frio”. Pelo estado delicado que ela se achava, meio a contragosto, papai buscou satisfazê-la. Arriscou seu futuro. Como era de se esperar, infelizmente, as coisas não deram muito certo na região escolhida. Exatos cinco anos estavam de volta ao interior de São Paulo. Papai nunca se conformou com a infame trajetória.
E agora, me encontrava quase na mesma situação. Querem saber, estava encrencado. Por bons motivos. Existe algo pior que não realizar seus sonhos? Antes mesmo de o resultado do concurso público sair eu já sonhava com os lírios dos campos de Veríssimo. Vagava entre as imagens de Vargas, Brizola, Anita Garibaldi e tantos outros guardiães e gáudios da alma gaúcha e brasileira. Via-me nos braços amorosos de uma gentil prenda. Ensaiava uns passos ligeiros do xote, do fandango ao som de um vanerão. Nas festivas estâncias fazia par com Pantagruel ao me empanturrar de churrasco, vinho e mate.
Mas cá entre nós existe algo pior que desapontar uma mãe? Senhor, não, não podia. Ainda mais a minha tão sensitiva. Meio bruxa, costumávamos eu e meus irmãos falar. Ninguém conseguia esconder nada dela. Aproximei-me dela e disse:
- Mamãe, sou um grande idiota. Desculpe-me se a assustei!
Ela passou os braços na minha cintura e apertou. Então as lágrimas hibernadas irromperam e deslizaram pelo rosto. Choramos juntos. Antes de a avalanche passar ficamos cercados pelos dorminhocos.
- O que está acontecendo? Por que mamãe está chorando? O que você fez?
- Nada! Juro.
Mamãe com um simples olhar acabou com o alvoroço. E sem largar meu braço disse num tom sério:
- Ele irá nos deixar.
- Eu não-não decidi nada ainda, mãe!
- Ele passou no concurso da UFSM! - bradou minha irmã mais velha num tom exultante.
- Tchi! – resmungou meu pai e acrescentou num tom irônico: Sua mãe não vai deixar você ir por causa do frio, da distância e sabe-se-lá os motivos que lhe derem na telha. Eu já aconteço essa história de outros tempos.
Ela não se abalou. E falou mais ou menos assim:
- Aí que você se engana meu velho. Ele foi intimado.
- Intimado? Por quem?
Mamãe suspirou profundamente. E meus olhos ainda úmidos presenciaram algo inimaginável. Estava do lado de uma giganta. Uma mulher corajosa, otimista, cheia de fé e virtudes. Senti aos trinta anos e com 1,90 de altura um ser pequenino diante dela e de suas palavras:
- Não esmoreça diante dos sacrifícios, desafios e dificuldades que hão de estar pelos caminhos que irá percorrer. Você estará longe de sua família, amigos e conhecidos apenas fisicamente. Espiritualmente, estaremos sempre ao seu lado. Há um projeto reservado para você. Cumpra com dedicação, solidariedade e amor. Ensine e aprenda. Aprenda e ensine. Essa noite em sonho Nossa Senhora anunciou sua vitória, meu filho. Também me disse que eu seria a primeira pessoa que receberia a notícia. Acho que por isso todos dormiram tanto, não é verdade? Vamos cumprimentem seu irmão.
Enquanto era parabenizado, não tirei os olhos dela. Mas quem pode entender as mulheres? E o coração de mãe? Confesso que as batidas de meu coração estrondeavam dentro do peito. Eu sabia que tudo iria dar certo. E tem dado, graças a Deus.

José Renato Ferraz da Silveira

MARCO AURÉLIO GARCIA RESPONDE A ABDENUR

Marco Aurélio Garcia responde a Roberto Abdenur
Enviado por luisnassif, sex, 10/09/2010 - 07:24
O TRISTE FIM DE UM DISCURSO DIPLOMÁTICO
Marco Aurélio Garcia
Não é fácil poder dar, em um período relativamente curto, duas entrevistas às páginas amarelas da revista Veja. É preciso estar muito afinado com o conservadorismo raivoso dessa publicação para merecer tal distinção.
Sei disso por experiência própria. Há muitos anos, um colunista-fujão de Veja dedicou-me um artigo cheio de acusações e insultos. Ingenuamente, enviei minha resposta a esta publicação, que se proclama paladina da liberdade de expressão. Meu texto não foi publicado e, para minha surpresa, li uma semana mais tarde uma resposta à minha resposta não publicada.
O embaixador-aposentado Roberto Abdenur teve mais sorte que eu. Emplacou uma segunda entrevista à Veja, talvez para retificar o tiro da primeira que concedeu (7 de fevereiro de 2007). Ou quem sabe para "compensar" o excelente depoimento do Presidente Juan Manuel Santos, na semana anterior, que não sucumbiu às tentativas da revista de opor o Brasil à Colômbia na América do Sul. Em sua primeira entrevista o diplomata destilava ressentimento contra o Ministro Celso Amorim que, num passado distante, o havia convidado para ser Secretário-Geral do Itamaraty e, mais recentemente, o havia enviado para uma de nossas mais importantes embaixadas – a de Washington. Abdenur preservava, no entanto, a política externa brasileira e, sobretudo, o Presidente Lula, que o havia designado como seu representante nos Estados Unidos.
Agora, tudo mudou. A crítica é global e dela não escapa nem mesmo o Presidente da República. Em matéria de política externa Lula não passa de um "palanqueiro", a quem o Itamaraty "não sabe dizer não". Faltando à verdade, o intrépito embaixador diz que nosso Presidente "começou a bater em Obama antes de eleito e não cansa de dar canelada no americano". Abdenur desconhece, ou finge desconhecer, as inúmeras manifestações de simpatia – e de esperança – que a eleição do atual Presidente norte-americano provocou em seu colega brasileiro. Ao invés disso, o ex-embaixador escorrega em rasteiro psicologismo ao detectar no Presidente Lula "um elemento de ciúme" em relação a Obama, pois este último lhe teria subtraído "a posição privilegiada no palanque global"...
Abdenur fez vinte anos de sua carreira diplomática durante o regime militar e não sofreu nenhum constrangimento. Até aí tudo bem. Muitos outros de seus contemporâneos tampouco foram perseguidos. Mas essa experiência profissional não lhe autoriza fazer analogias entre a política externa atual e aquela levada adiante nos primeiros anos da ditadura, quando chanceleres proclamavam que o que "é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil" ou patrocinavam o envio de tropas brasileiras para esmagar as mobilizações populares na República Dominicana.
É claro que aquelas inflexões da política externa brasileira foram tomadas por "razões ideológicas" (de direita). Mas a pergunta que não quer calar é: quando não temos motivações ideológicas na política, em particular na política externa?
Durante o Governo Geisel, quando Abdenur integrou o grupo dos "barbudinhos" do Itamaraty, foram resgatados princípios da Política Externa Independente de Santiago Dantas, Afonso Arinos e Araújo Castro, apresentados para a ocasião sob a eufemística denominação de "pragmatismo responsável". Mas aquela política – que tinha conteúdos progressistas, diga-se de passagem – também era expressão do projeto autoritário de "Brasil Potência" propugnado pelos militares. Tanto ela, como a Política Externa Independente do período Goulart-Jânio, tinham fortes componentes "ideológicos", como é normal em qualquer sociedade, democrática ou não.
É igualmente "ideológica" a reivindicação do ex-embaixador de que nossa diplomacia se alimente de "valores ocidentais". Mais do que ideológica, é ultrapassada e perigosa.
Ultrapassada, pois traz à memória os tempos da "guerra fria", quando se falava em "civilização ocidental e cristã" para esconder propósito profundamente conservadores.
Perigosa porque traz à tona e legitima a idéia de choque de civilizações (entre "oriente" e "ocidente") que os neo-conservadores têm defendido com tanta insistência nos últimos anos para justificar suas aventuras belicistas, queima de livros ou interdição de templos religiosos.
O ex-embaixador se alinha com as críticas da oposição brasileira contra a política externa atual. Seletivamente, ataca nosso bom relacionamento com Venezuela, Bolívia e Equador, supostamente motivado por afinidades ideológicas, esquecendo-se de mencionar nosso igualmente bom relacionamento com Argentina, Chile, Peru e Colômbia. Motivado por que?
Escondendo-se detrás de "boa fonte boliviana bem informada", desconhece ou deliberadamente omite, a cooperação militar e policial que se desenvolve com a Bolívia e com outros países para fazer frente ao flagelo do narcotráfico na região.
É próprio do pensamento conservador tentar apropriar-se de valores universais para encobrir interesses particulares – de classe, estamento, grupo ou etnia. A história do Brasil está cheia de exemplos. Nosso liberalismo conviveu alegremente com a escravidão. Nossa República proclamou retoricamente, durante décadas, a cidadania plena e praticou a mais brutal exclusão econômica, social e política. Tudo isso à sombra o Iluminismo, dos ideais da Renascença, do Humanismo ou da Revolução Americana que o embaixador invoca em seu vago projeto diplomático.
O Presidente Lula, assim como quase todos governantes, manteve e mantém relações com Chefes de Estado e de Governo dos mais distintos países: de democráticos, de regimes teocráticos, de partido único ou de responsáveis por graves violações de direitos humanos em nível local ou global. Não será difícil encontrar os nomes dos países na tipologia antes aludida.
Esses relacionamentos não se devem a idiossincrasias presidenciais como, de forma desrespeitosa, pretende Abdenur. Eles se inserem no difícil esforço de construção de um mundo multilateral e, sobretudo, de um mundo de paz.
São muitos os caminhos para atingir esse objetivo. Vão do uso da força militar ao emprego das sanções que golpeiam mais ao povo do que aos governantes dos países atingidos. Mas há também o caminho da negociação, da diplomacia que não renuncia valores, mas que não faz deles biombo por traz do qual se ocultam inconfessáveis opções políticas e ideológicas, particularmente quando a sociedade brasileira é chamada a decidir seus destinos pelos próximos quatro anos.
P.S.: há algum tempo a imprensa noticiou que Roberto Abdenur estava dando cursos de política externa para os Democratas (ex-PFL). Não acreditei. Agora passei a acreditar.

Viver em sociedade

Viver em sociedade

Eugênio Mussak

Ando preocupado com minha conduta perante as demandas da vida em sociedade. Por quê? Porque viver em sociedade – na empresa, no condomínio, no aeroporto, no clube, na rua – requer duas qualidades fundamentais: respeito e tolerância, e acho que ultimamente tenho perdido um pouco da segunda.
Do ponto de vista da ética das relações, respeitar tem o significado de não se apropriar do que é do outro, seja um valor material, seja um valor imaterial. Respeitar significa “lançar um novo olhar”, ou “olhar duas vezes” antes de tomar uma atitude. Eu procuro fazer isso: olho e penso duas vezes antes de falar, tocar, entrar, interferir. Respeito é bom e todo mundo gosta, diz o sábio ditado.
E tolerância significa que devemos respeitar o outro que, de alguma maneira, é diferente de nós. Devemos, sim, respeitar raça, religião, origem, posição social, preferência sexual, time, qualidades de âmbito pessoal. Até aqui, tudo bem, continuo me enquadrando dentro da categoria dos tolerantes. Só que tenho andado menos tolerante com quem não tem compromisso com a primeira qualidade: o respeito. Ando sem paciência, confesso, com coisas assim: um sujeito utiliza o celular no restaurante e fala tão alto que poderia dispensar o aparelho para ser ouvido pelo outro; o avião pousa, os passageiros esperam o desembarque no corredor e alguém resolve colocar a mochila nas costas exigindo contorcionismo de quem está atrás dele; numa reunião, um executivo faz seu discurso, mas, quando os outros estão falando, ele aproveita para acessar seu smartphone; o e-mail, mesmo com o sinal de alta prioridade, leva dias para ser respondido; o fanático por Techno music tem certeza que todos na rua apreciarão a potência do som do seu carrão. Sintomas de uma sociedade que tem a doença do desrespeito.
Tolerância é uma forma de respeito, sim, mas a tolerância com o desrespeito perde sua essência. Uma sociedade assim desrespeita a si mesma, banaliza a educação, embrutece as relações, diminui seu valor e compromete seu futuro. E tudo começa nos pequenos atos, que se replicam nas grandes decisões.

Eugênio Mussak é professor do MBA da FIA e consultor da SAPIENS SAPIENS. eugenio@ssdi.com.br

LISTA DE FILMES EXTRAORDINÁRIOS

Lista de filmes

1 – Laranja Mecânica
2 – Nascido para matar
3- Os imperdoáveis
4- Trilogia Guerra nas estrelas (antiga)
5- Trilogia Poderoso chefão
6- Matrix
7- Um sonho de liberdade
8- Beleza americana
9- Três homens e um destino
10- E o vento levou

LISTA DE LIVROS CLÁSSICOS

Lista de livros

1- Victor Hugo – Os miseráveis
2- Émile Zola – Germinal
3- Tolstoi – Guerra e Paz
4- Dostoiévski – Crime e Castigo
5- Shakespeare – Obras Completas
6- G. Orwell – Revolução dos Bichos e 1984
7- Gabriel Garcia Marquez – Cem anos de solidão
8- Miguel de Cervantes – Dom Quixote
9- Dante – Divina Comédia
10- Homero – Ilíada e Odisséia
11- Charles Dickens – Obras Completas
12- Ésquilo, Sófocles e Eurípides – Obras Completas

PROVAS E PROVAÇÕES

Provas e provações

Diana Corso
e-mail: dianamcorso@gmail.com

Para mim já acabou, como criança que fui e até como mãe, mas doeu nas duas pontas. São as incertezas do fim do ano escolar, o medo de não passar, o pânico do vexame de rodar, da opinião do professor, a necessidade de provar o que não temos certeza se sabemos ou se, caso saibamos, conseguiremos demonstrar.
Todas as professoras de matemática que tive foram uma provação, sua matéria continua insondável para mim. Uma delas, recentemente encontrou minha mãe na rua e, ao ser informada de que eu não havia fracassado na vida, não pôde conter sua surpresa: “Então ela deu em alguma coisa!”. Como se vê, não fui aluna muito promissora nesse quesito. Assim como ocorreu comigo, creio haver muitos alunos que não são eficientes em todas as áreas que encontram dificuldades em exatas ou humanas, ou mesmo são atrapalhados para adaptar-se à sala de aula, sendo agitados ou sonhadores. Por vezes, há algum problema com o aluno, mas sem dúvida quando se trata de aprender não cabemos todos na mesma fôrma.
Para que alguém possa aprender, é preciso que haja algum espaço para a curiosidade, que as dúvidas não sejam atestado de ignorância, que o envolvimento do docente seja visível. Se não for assim, a única coisa que estará sendo testada nas provas é a obediência, a capacidade para disponibilizar o cérebro para ser preenchido pelo pretensamente sábio superior hierárquico. Dar-se bem, neste caso, prova que o aluno não se opõe a ser influenciado e formado/formatado pelo seu mestre.
Com muita freqüência, graças à competência dos professores e escolas isso tudo funciona. Porém, por vezes, crianças e jovens se fecham frente aos ensinamentos dos pais ou professores para proteger de uma invasão imaginária, ou talvez porque haja outro assunto relevante que precise ser digerido. Também ocorre que sua natureza possa pender radicalmente para outra forma de aprendizagem, que um campo de saber lhe seja mais permeável, enquanto o outro é hostil e estrangeiro. Cada professor prefere um tipo de aluno e vice-versa, o resto é desencontro.
Ignorando tudo isso, certos mestres se regozijam com a autoridade de que gozam, intimidando seus alunos, principalmente aqueles com maiores dificuldades. Infelizmente conheci alguns desses. É uma covarde glória do forte sobre o fraco, que no final de ano vive sua apoteose de poder. Felizmente esses são poucos, e graças a isso, no fim das contas, acabei não dando tão errado assim , apesar de nos meus pesadelos os carrascos da SS terem a cara de certas professoras de matemática.