segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Ambição feminina

Entre 1949, quando saiu o primeiro livro de teoria feminista: o Segundo Sexo, até os dias de hoje mudanças ocorreram na relação entre os gêneros.
De um lado temos a emancipação da mulher, e do outro, surgem homens em busca de uma nova identidade. A espanhola Nuria Chinchilla, professora da escola de negócios da Iesle, da Universidade de Navarra, co-autora do livro Ambición Femenina: “a ambição feminina é muito mais ampla e completa que a masculina”.
Essa afirmação, em tom feminista, corrobora os últimos dados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), censo 2005, no qual o total de concluintes foi de 717.858. Nesse mesmo dado relativo aos gêneros dos graduados, o total de homens foi de 217.134 e o de mulheres de 446.724.
Apesar de eles revelarem uma positiva participação feminina entre os concluintes de cursos de Ensino Superior, no território nacional, as mulheres brasileiras não estão, em inúmeros aspectos, em “pé de igualdade” com os homens.
Conforme reportagem no caderno Feminino do jornal O Estado de São Paulo, 18 de março p.p, uma pesquisa mundial, realizada pelo Programa de Mulheres Líderes do Fórum Econômico Mundial, mapeou as disparidades entre homens e mulheres em quatro pilares fundamentais: participações política e econômica, saúde, educação. Foram analisadas informações de 115 países da Europa, América do Norte, América do Sul e Caribe, Ásia, Oriente Médio, África do Norte e Oceania.
O Brasil ocupa o 67° lugar. Infelizmente perde para Uruguai, Paraguai, Venezuela, Argentina, Colômbia, entre outros, na classificação geral. A pesquisa aponta, ainda, as disparidades entre os sexos. E demonstra que a condição de vida oferecida ao homem e a parcela insignificativa que à mulher desfruta dessa fatia do bolo.
Analisando os itens da pesquisa, isoladamente, nos quesitos educação e saúde (o que inclui expectativa de vida), o país alcançou um índice de 97%. Embasado nos dados citados do SINAES, pode-se afirmar que, a perspectiva futura em relação ao item participação e oportunidade econômicas é esperançosa. Hoje, no mercado de trabalho, “elas alcançaram apenas 60% de igualdade com os homens”. Ou seja, “o Brasil desperdiça 40% de mão de obra qualificada disponível, mas não utilizada”, comenta a chefe do Programa de Mulheres Líderes do Fórum Econômico Mundial , Saadia Zahidi. “Vale lembrar que, segundo dados nacionais, entre a população que trabalha, a educação feminina é 37% superior à masculina. No entanto, as mulheres ainda ganham cerca de 30% a menos que os homens”.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a explicação para essa remuneração inferior é que as mulheres costumam concentrar sua atuação no setor de serviços. Atuam em ocupações pouco qualificadas e evidentemente de baixa remuneração. A trajetória profissional das mulheres também costuma ser marcada pela menor ocupação nos cargos de comando ou chefia.
Nesse sentido, na construção de uma carreira profissional bem sucedida, as mulheres esforçam-se sobremaneira para enfrentar as disparidades em igualdade para com os homens. Comumente, as mulheres atravessam “vales profundos do preconceito e percorrem caminhos longos e conflituosos”, afim de ocuparem postos de trabalho bem remunerados e para tornar-se profissionais superqualificadas. Além disso, a mulher se depara com um “problema” biológico: a gravidez. Gravidez, para grande parte dos empregadores equivale a interrupção da função social. Algo completamente injustificado e incorreto.
Mesmo atendidas pela legislação trabalhista, muitas vezes, as mulheres “abrem mão” de sua felicidade pessoal em termos de constituir família. Carreira ou filhos? Esse é o dilema da mulher contemporânea. E por mais que as leis assegurem o direito à maternidade, a insegurança e o medo do desemprego falam mais alto. A ambição por cargos de chefia, sucesso na carreira, prestígio, fama e conseqüente independência financeira obriga às mulheres a se dedicarem mais ao trabalho. Isso é natural e perfeitamente compreensível na pós-modernidade.
A mulher, consciente de sua condição social perante o homem no processo histórico-econômico da Humanidade vem demonstrando que para vencer, além de esforço, determinação, vontade férrea, flexibilidade, independência e sacrifício é preciso algo mais. A sensibilidade, o poder de comunicação e a educação em nível superior são fatores indispensáveis na desigual disputa com os homens.
“A mulher não nasce mulher – ela é feita mulher de acordo com pressões externas, culturais”, Simone de Beauvoir (1908-1986).

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