segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O BRASIL DIANTE DA POTENCIALIDADE DO MERCADO CHINÊS

Nas últimas décadas, especialistas em relações internacionais assim como diversos economistas têm focado suas análises na indelével projeção do mercado asiático, em especial do mercado chinês. Com uma população acima de 1 bilhão de habitantes e um Produto Interno Bruto (2009) de, aproximadamente, 5 milhões de dólares, a China mostra, anualmente, sua potencialidade em demandar produtos importados – potencial, ainda não completamente explorado pelo Brasil.
A teoria do modelo gravitacional - formulada por dois influentes economistas contemporâneos, Paul Krugman e Obstfeld - trabalha com a idéia segundo a qual o volume tanto das importações quanto das exportações varia de maneira diretamente proporcional ao tamanho das economias envolvidas nas trocas comerciais analisadas. A partir de observações acerca do Produto Interno Bruto (PIB) de países que realizam trocas comerciais entre si, observa-se que aqueles que possuem PIB's, substancialmente, elevados tendem a promover volumes maiores de trocas comerciais entre si do que aqueles cuja renda é visivelmente menor. Por outro lado, Krugman e Obstfeld afirmam que a distância também influencia nas trocas comerciais, mas de maneira inversamente proporcional. Em outras palavras, quanto maior a distância entre os países, menores serão os volumes comercializados entre eles. Sendo assim, dois diferentes fatores atuam nas trocas comerciais entre os países, sendo que um deles – o tamanho dos PIB's – corrobora para o aumento do comércio internacional, enquanto outro – a distância – tende a dificultá-lo.
Essa teoria baseia-se no fato de que, empiricamente, “as grandes economias tendem a gastar altas somas em importações porque possuem altas rendas. Também tendem a atrair grandes participações dos gastos de outros países porque produzem uma ampla gama de produtos”. No entanto, esse tipo de análise não leva em consideração as inúmeras inovações tecnológicas capazes de atenuar as adversidades oriundas de longas distâncias geográficas. Com a diminuição dos gastos inerentes ao setor logístico, o fator “distância” pode ser minimizado, a despeito de sua permanente relevância. Com o intuito de simplificação, o mesmo modelo também não analisa os fatores políticos envolvidos no comércio internacional, tais como barreiras alfandegárias, subsídios, e outros métodos de protecionismo, vigentes na política econômica das principais economias. Esse tipo de óbice ao comércio internacional está ligado, principalmente, à pauta de importações de produtos com maior valor agregado, tais como os produtos manufaturados.
No ano de 2009, o Brasil recebeu cerca de US$101 milhões com as exportações de produtos primários, sendo que o principal destino foi a Ásia, com um significativo aumento de 7,9%, em relação ao ano anterior. Além disso, a China mostrou sua importância como mercado consumidor, absorvendo 61,4% do total exportado para a Ásia. A título de comparação, a América Latina diminuiu seu consumo de matérias-primas brasileiras em 38,2%.
Já os produtos semimanufaturados comprovam, mais uma vez, que a Ásia foi o principal destino, com lucro de US$35 milhões. As economias latino-americanas, por sua vez, reduziram suas compras em 39,7% e renderam à balança comercial brasileira uma limitada soma de US$ 4 milhões, contra US$35 milhões oriundos da Ásia.
Ainda no que tange às exportações brasileiras, no ano de 2009, os produtos manufaturados exportados para a América Latina renderam US$ 115 milhões, mas com uma retração de 27%. A Ásia, nesse setor, importou apenas US$21 milhões, porém com um crescimento de 1,6%. Ainda que o mercado asiático participe de forma menos significativa que a América Latina, na pauta de produtos manufaturados brasileiros, nota-se que, enquanto as compras latino-americanas sofreram uma retração expressiva, os chineses aumentaram, ainda que de maneira limitada.
Após essa breve análise sobre os dados referentes ao Balanço de Pagamentos do Brasil, do ano de 2009, e, de modo mais específico, sobre as transações comerciais, conclui-se que o Mercosul, ao longo dos anos, vem perdendo espaço entre os mercados que importam produtos brasileiros. Essa análise aplica-se, precipuamente, aos produtos básicos e semimanufaturados. Todavia, essas mesmas categorias de produtos encontram, gradativamente, o vasto mercado consumidor asiático – em especial a China – cuja tendência é o incremento das transações comerciais.
Sob a perspectiva do modelo gravitacional, infere-se também que a distância não opera de maneira determinante entre as relações bilaterais com a China e que o fator PIB acaba suplantando a importância da distância geográfica. Com economias em ascensão, o mercado asiático, por mais distante que seja, constitui-se em um mercado promissor para os produtos brasileiros das mais variadas categorias. Não obstante, a proximidade dos países membros do Mercosul não é capaz de auferir resultados satisfatórios, na medida em que o PIB das economias sul-americanas é infinitamente inferior ao PIB chinês. Nesse sentido, deve-se frisar que o PIB tem um peso maior para as trocas comerciais do que a distância – já que as inovações tecnológicas têm a capacidade de diminuir os custos de transporte e a baixa riqueza das economias do Mercosul impedem um incremento das vendas brasileiras para esse bloco.
Pode-se contrapor a essa conclusão, o fato de que os produtos manufaturados brasileiros ainda não puderam ser inseridos no mercado asiático conforme a potencialidade das importações daqueles países. No entanto, fatores políticos e sociais – baixa remuneração da mão-de-obra, taxas alfandegárias, preços baixos, subsídios, desvalorização do yuan (moeda chinesa), etc. - obstruem o fluxo dos produtos brasileiros para tal região. Sob a dificuldade incutida pelo protecionismo chinês, os produtos brasileiros não conseguem entrar, nesse mercado, em condições razoáveis de competitividade.
Nesse sentido, a expansão do mercado chinês bem como a sua capacidade de incremento nas importações deve ser amplamente analisada pela política econômica do Governo brasileiro. O Brasil deve aumentar seus esforços, por meio da diplomacia e da política como um todo, para que as vendas brasileiras sejam ampliadas a esse grande mercado, que se constitui, no começo do século XXI. Tal proposição não subestima a importância econômica e geopolítica do Mercosul, mas prioriza a possibilidade de lucros em mercados cujas economias possuem um PIB muito mais elevado e, ao longo do tempo, com taxas crescentes, mostrando uma visível expansão e consolidação de suas estruturas macroeconômicas. O Brasil deve, portanto, priorizar sua pauta de exportações, no mercado chinês, sob a justificativa de que os produtos nacionais podem encontrar um grande mercado consumidor, nessa potência oriental.

Guilherme Backes – acadêmico do curso de Relações Internacionais (UFSM) e pesquisador do grupo PRISMA.

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