segunda-feira, 1 de agosto de 2011

"Terroristas favoritos" de Washington gastam milhões para sair de lista de alvos

ANNA FIFIELD
DO "FINANCIAL TIMES"

Um grupo de exilados iranianos está gastando milhões de dólares em uma campanha de lobby para ser removido da lista oficial de organizações terroristas estrangeiras do governo norte-americano, e recrutou diversas figuras conhecidas no ramo da segurança nacional dos Estados Unidos para agirem em sua defesa.

Dezenas de antigos funcionários do governo e políticos de todos os matizes -do conservador John Bolton ao progressista Howard Dean- receberam pagamentos da ordem de dezenas de milhares de dólares para discursar em eventos organizados por simpatizantes do movimento Mujahedin-e-Khalq (MEK), ou Mujahedin do Povo, nos Estados Unidos, conforme constatou o "Financial Times".

Em 1997, Washington incluiu o MEK, grupo islâmico marxista que em 1979 apoiou a ocupação da embaixada norte-americana em Teerã, na sua lista de organizações terroristas. Mas o grupo alega ter renunciado ao terrorismo em 2001, e apelou para ser excluído da lista, que também inclui a Al Qaeda e o Hizbollah. A organização se afastou do governo islâmico iraniano depois da revolução de 1979.

A organização contratou o escritório de lobby Akin Gump Strauss Hauer & Feld para convencer legisladores norte-americanos a apoiarem sua causa, e veiculou diversos anúncios em jornais, com preços da ordem de mais de US$ 100 mil. O Departamento de Estado deve decidir quanto a retirar o nome do MEK da lista de organizações terroristas no mês que vem.

Para ajudar a defender sua causa grupos ligados ao MEK recrutaram mais de 40 antigos funcionários do governo norte-americano e políticos para falar em nome da organização. Entre eles estão o ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani; Jim Jones, primeiro assessor de segurança nacional do presidente Barack Obama; o general reformado Wesley Clark; e Tom Ridge, o primeiro titular do Departamento de Segurança Interna.

Uma analista de assuntos iranianos, Trita Parsi, definiu a organização como "os terroristas favoritos de Washington".

Lee Hamilton, antigo presidente democrata do Comitê de Relações Exteriores da Câmara, e Michael Mukasey, secretário da Justiça no governo de George W. Bush, admitiram ambos ao
"Financial Times" ter recebido honorários para palestrar em eventos ligados ao MEK.

Bolton, embaixador de Bush às Nações Unidas, disse que não vê como problema as palestras pagas que fez em eventos do grupo, e Dean, antigo presidente do comitê nacional do Partido Democrata, descartou a questão como "irrelevante".

Nenhum dos demais palestrantes contatados revelou quanto havia recebido, mas Ed Rendell, antigo governador da Pensilvânia, disse ter recebido US$ 20 mil por um discurso de 11 minutos. "Mas mesmo que pagassem US$ 50 mil, eu não faria a palestra se não concordasse com a ideia".

Diversas pessoas conhecedoras das ofertas da MEK descreveram uma escala flexível de pagamentos da ordem dos US$ 20 mil a US$ 100 mil por discurso. Ahmad Moein, diretor executivo da Iranian American Community of Northern California, uma das organizações envolvidas na campanha de lobby, disse que os montantes envolvidos foram "tema de sérios exageros".

TRADUÇÃO DE PAULO MIGLIACCI

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