segunda-feira, 18 de abril de 2011

Fábrica de Moscas

A obra literária Senhor das Moscas escrita por William Gerald Golding (1911-1993), romancista e poeta inglês recebeu em 1983 o prêmio Nobel de Literatura por esse fascinante livro. “Essa obra retrata a regressão à selvageria de um grupo de crianças inglesas de um colégio interno, presos em uma ilha deserta sem a supervisão de adultos, após a queda do avião que as transportava para longe da guerra. No início, os meninos apreciam a vida sem a supervisão de adultos e ocupam a maior parte de seu tempo brincando na água e jogando”. À medida que decorre a história, Ralph e Jack, protagonistas, confrontam-se pelo poder. Várias crianças são vitimadas por essa disputa política.
Muitos estudiosos apontam que o Senhor das Moscas é um trabalho de filosofia moral. Isso fica evidente, com o cenário parasídiaco da ilha, com toda a água e comida necessários. Golding nos revela nessa obra o cárater anárquico, catódico e sinestésico de uma comunidade de crianças ausentes de autoridade parental.
Autoridade, segundo o Dicionário Houaiss da língua portuguesa, de origem etimológica latina auctor, possui múltiplos significados, dentre os mais importantes, o direito ou poder de ordenar, de decidir, de atuar, de se fazer obedecer.
A necessidade de autoridade é fundamental? O que significa o enfraquecimento ou a destruição da autoridade em nossos dias? Por que clássicos de Homero, Shakespeare, Dostoievski, Kafka, George Orwell, ou mesmo, William Gerald Golding versam sobre o enfraquecimento da autoridade? De fato, essas questões norteiam um tema bastante recorrente nas Ciências Sociais, em específico, da Ciência Política: o excesso, a limitação ou a ausência da autoridade.
Autoridade é fundamental, isso é inegável. Seja do Estado em relação à sociedade; seja dos pais em relação aos filhos. Assim como é da natureza do homem viver em sociedade, e esta exige o poder, é da natureza do homem desejar e obedecer ao poder. Mas se todos quisessem o poder e não obedecer, ou se todos se resignassem a obedecer e ninguém se dispusesse a mandar, a sociedade se dissolveria.

Na família, autoridade é essencial na educação dos filhos. Os pais devem criar regras de conduta estimulando as crianças e os adolescentes a reproduzirem tais “mandamentos” em outras instâncias sociais, seja na escola ou no clube.
O sociólogo Richard Sennet (1943-) afirma as crianças, os adolescentes precisam de autoridades que as orientem e tranqüilizem. Os adultos realizam uma parcela essencial de si ao serem autoridades: é um modo de expressarem interesse por outrem. Há um medo persistente de sermos privados dessa experiência.
Mas o que se constata na atual limitação da autoridade parental é a ausência de regras, ou seja, de disciplina. A psicóloga Viviane Namur Campagna afirma “a atitude dos pais em geral, na vida, é mais importante do que aquilo que eles de fato se propõe a dizer ou fazer com os filhos”. Os pais muitas vezes querem que os filhos aprendam conceitos que eles na prática não exercem, por exemplo, querem que os filhos aprendam a respeitar os outros quando, na pressa de deixar os mesmos na escola, param em fila dupla ao invés de aguardar sua vez na fila, deixando os filhos em situação de perigo e passando na frente dos outros. Ensinamos assim na prática o ditado maquiavélico: “os fins justificam os meios”.
“Aprender a ter disciplina é aprender conceitos morais indispensáveis para ter um bom-caráter. Ter bom-caráter significa respeitar a si mesmo e aos outros”. Para educar é preciso de fato crer no que se educa e ter para si os mesmos valores e parâmetros. É um trabalho de auto-observação constante, onde a coerência tem que ser sempre procurada. Além de que essa responsabilidade não é delegada a parentes, professores, inspetores, diretores de escola ou outros. Essa responsabilidade são pertecentes ao pais. Esses devem ser firmes em seus propósitos de disciplina, apesar do cansaço e das contestações dos filhos. Exercer autoridade é assim, conquistar admiração e ensinar o respeito ao próximo. Moscas ou homens? Pais, vocês escolhem.

O autor, José Renato Ferraz da Silveira.

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