terça-feira, 1 de março de 2011

Rebeldes enfrentam ofensiva de Gaddafi no oeste da Líbia

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

O ditador líbio, Muammar Gaddafi, lançou nesta terça-feira uma ofensiva na parte oeste do país, em um esforço para reverter o avanço dos rebeldes da oposição que já controlam a faixa leste do país. Moradores relataram batalhas com tropas leais a Gaddafi em Nalut, Misrat e Zawiyah.
Moradores disseram que forças pró-Gaddafi se mobilizaram para reafirmar o controle de Nalut, a cerca de 60 quilômetros da fronteira com a Tunísia, e impedir que ela caia em poder dos rebeldes.
As forças de Gaddafi reforçaram ainda sua presença na remota localidade de Dehiba, também na fronteira com a Tunísia, e decoraram o posto de passagem com as bandeiras verdes do regime.
Repórteres que estão no lado tunisiano viram veículos do Exército da Líbia e soldados armados com fuzis Kalashnikov. No dia anterior, não havia presença militar líbia nesse posto fronteiriço.
Forças leais ao ditador líbio lançaram ainda uma batalha de seis horas na madrugada desta terça-feira para tentar reconquistar a estratégica Zawiya, apenas 50 km ao oeste da capital Trípoli. Gaddafi chegou a ameaçar bombardear os opositores em Zawiya, segundo o canal de TV Al Jazeera.
Os rebeldes, que incluem militares desertores, estão armados com tanques, metralhadoras e bateria antiaérea. Eles reagiram ao avanço das tropas de Gaddafi, que levava as mesmas armas e atacaram de seis direções. Não há relatos de vítimas no combate.
"Nós não desistiremos de Zawiya a nenhum custo", disse uma testemunha, que preferiu não se identificar. "Nós sabemos que ela é estrategicamente importante. Eles lutarão para consegui-la, mas nós não desistiremos. Nós conseguimos derrotá-los porque nossos espíritos são nobres e os espíritos deles são nada".
As testemunhas disseram que os jovens de Zawiya estão nos telhados dos prédios na cidade para monitorar os movimentos das forças pró-Gaddafi e acionar alerta em caso de ataque iminente. Elas disseram ainda que o regime Gaddafi chegou a oferecer generosas quantias para os rebeldes entregarem o controle da cidade de volta para as autoridades.
As forças do ditador, que resiste à forte pressão interna e internacional, também tentaram reconquistar Misrata, a terceira maior cidade líbia, localizada 200 km a leste de Trípoli. As forças rebeldes conseguiram derrotá-las, mas um dos porta-vozes dos chamados 'jovens da revolução de 17 de fevereiro' garantiu ao canal Al Jazeera que ao menos três pessoas morreram.



NERVOSISMO
Gaddafi, que está no poder há mais de 41 anos, já perdeu o controle da metade leste do país desde que os protestos pedindo sua queda começaram há duas semanas.
Trípoli, com 1,5 milhão de habitantes, é o último bastião do poder de Gaddafi. Vários líderes tribais, autoridades do regime e chefes militares já passaram para o lado dos rebeldes, levando consigo enormes extensões do país, que tem 6 milhões de habitantes. A maior parte dos recursos petrolíferos líbios já está nas mãos da oposição.
Na região de Trípoli, havia filas nas padarias na manhã desta terça-feira. Moradores disseram que vários estabelecimentos estavam limitando a venda de pães, o que obrigava a população a passar por várias padarias para se abastecer.
"A situação está nervosa", disse o médico Salah, numa padaria onde cerca de 15 pessoas faziam fila no lado de fora. "Claro que estou preocupado. Minha família está com medo (...), temos ouvido tiroteios. Tenho 35 anos e é a primeira vez que vejo algo assim na Líbia. É muito assustador."
Alguns analistas avaliam que, diante da grande pressão internacional, Gaddafi não irá realizar uma ofensiva militar de grande escala para tentar recapturar territórios. As ameaças feitas por ele nos últimos dias estariam, segundo esses analistas, no campo da "manobra política".
"Gaddafi está acabado se fizer (um ataque militar), e está acabado se não fizer. Em ambos os casos, ele está muito vulnerável", disse o ativista e editor líbio Ashour Shamis, que vive no Reino Unido.
"Ele está perdendo pedaços da Líbia muito rapidamente. Não tem influência senão em Trípoli, e mesmo lá há áreas muito pequenas sob seu controle."
Observadores regionais preveem que os rebeldes acabarão por conquistar Trípoli, e que irão matar ou prender Gaddafi.
RELAXADO
Mas o ditador de 68 anos parece estar alheio ao cerco. Em entrevista concedida em um restaurante na orla de Trípoli, ele chegou a rir ao minimizar a rebelião.
Ele negou que tenha ordenado bombardeios aéreos contra os manifestantes, mas admitiu que aviões atacaram quartéis e paióis de munição. Negou também que tenha havido protestos contra o regime, e disse que alguns jovens saíram às ruas depois de serem drogados pela rede terrorista Al Qaeda. Acrescentou que as forças do governo tinham ordens de não atirar.
Alguns veem as muitas aparições de Gaddafi na mídia como uma astuta tentativa de usar os canais ocidentais para lembrar à audiência global que ele continua no comando, afastando assim a ideia de que sua autoridade estaria se esvaindo.
"Há uma batalha pela narrativa", disse o analista Shashank Joshi, do Real Instituto de Serviços Unidos do Reino Unido.
Em nota, um grupo de clérigos oposicionistas da Líbia pediu às operadoras internacionais de TV por satélite que cortem o serviço que tem permitido à TV estatal líbia transmitir os discursos de Gaddafi para o mundo todo.
"Gaddafi, seus filhos e asseclas têm ordenado diretamente assassinatos pelos canais líbios de TV", disseram os clérigos.
A embaixadora dos EUA junto à ONU, Susan Rice, qualificou de "delirantes" as declarações de Gaddafi à ABC e BBC.

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