segunda-feira, 7 de março de 2011

Papel de interlocutor internacional ajudou Brasil a melhorar imagem, diz Viotti

Papel de interlocutor internacional ajudou Brasil a melhorar imagem, diz Viotti

ALESSANDRA CORRÊA
ENVIADA ESPECIAL DA BBC BRASIL A NOVA YORK

A embaixadora do Brasil na ONU, Maria Luiza Ribeiro Viotti, acredita que o aumento da visão positiva sobre o país no exterior --registrado em pesquisa da BBC-- se deva a fatores como o papel de interlocutor que o país assumiu no cenário internacional, à redução da pobreza e ao fato de uma mulher ter sido eleita presidente.

"Acho que a percepção da imagem do Brasil evoluiu muito nos últimos anos", disse Viotti em entrevista à BBC Brasil.
Segundo a embaixadora, o Brasil se firmou como voz no cenário internacional, particularmente em momentos de crises como a que sacode o Oriente Médio e o norte da África.
"O Brasil tem uma presença importante em todos esses cenários, por meio da nossa cooperação bilateral, por meio da participação em operações de paz das Nações Unidas, das posições que tomamos aqui", disse Viotti.
O Brasil presidiu em fevereiro o Conselho de Segurança da ONU, órgão do qual é membro não-permanente.
Segundo a embaixadora, a participação do Brasil "chamou a atenção" e recebeu manifestações "de apreço e consideração".

A embaixadora falou ainda das diretrizes que o governo de Dilma Rousseff deverá dar para a atuação do Brasil junto à ONU e sobre a reforma do Conselho de
Segurança e a ambição brasileira de conquistar uma vaga permanente.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

BBC Brasil: Uma pesquisa do Serviço Mundial da BBC mostra que aumentou muito a percepção positiva do Brasil no exterior. O papel do Brasil na ONU ajudou a melhorar a imagem do Brasil no mundo?
Maria Luiza Ribeiro Viotti: Eu acho que a nossa participação no Conselho de Segurança, e sobretudo a presidência exercida pelo Brasil no mês de fevereiro, certamente chamou a atenção. Porque tivemos que lidar com uma agenda bastante intensa e com desafios inesperados, como foram o conflito de fronteiras entre Tailândia e Camboja, a questão da resolução sobre os assentamentos nos territórios palestinos ocupados, e finalmente a questão da Líbia, no final do mês. E eu acho que a maneira como o Brasil conduziu os trabalhos do conselho, de uma maneira transparente, equilibrada e construtiva, teve resultados importantes para o conselho, e (o Brasil) recebeu manifestações de apreço e de consideração.

Como a senhora percebe a reação dos outros países-membros da ONU à atuação do Brasil? As posições do Brasil são mais respeitadas, têm mais força?
Acho que a percepção da imagem do Brasil evoluiu muito nos últimos anos. Isso se deve a uma série de fatores. A consolidação da nossa democracia, o crescimento sustentado ao longo desses últimos anos, com inclusão social, redução da pobreza, melhoria nos nossos indicadores sociais, o fato de termos tido um presidente que surgiu de uma situação difícil, de pobreza, e chegou à Presidência da República, e fez uma Presidência de tanta importância, com impacto tão forte, não só no Brasil, mas também no exterior. E agora temos uma presidenta, mulher, pela primeira vez na nossa história, também plenamente comprometida com esses objetivos de reforçar nossa prosperidade econômica, nosso crescimento com inclusão social. Acho que tudo isso torna o Brasil mais conhecido, mais respeitado, mais apreciado no cenário internacional.

Em um cenário internacional mais conflituoso, o Brasil começa a ser mais visto como um possível mediador, em questões como a do Oriente Médio?
A situação no cenário internacional está passando por mudanças muito importantes, como estamos vendo no norte da África, no Oriente Médio, na África mesmo. E eu acho que o Brasil tem uma presença importante em todos esses cenários, por meio da nossa cooperação bilateral, por meio da participação em operações de paz das Nações Unidas, das posições que tomamos aqui, no Conselho de Segurança, na Assembleia Geral, no Conselho de Direitos Humanos. Então eu creio que o Brasil se credencia como um interlocutor importante e válido em todas essas questões.

O que o Brasil pode fazer nos próximos 10 ou 20 anos no contexto da ONU para manter essa posição de maior importância no cenário global?
Eu acho que devemos continuar com este perfil que temos, de um país comprometido com o multilateralismo, comprometido com as Nações Unidas. Com uma participação crescente nas atividades da organização. E comprometido também com as principais aspirações dos principais países em desenvolvimento. Nós realizamos, por exemplo, durante o mês de fevereiro, um debate de alto nível, que foi conduzido pelo ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, sobre as inter-relações entre paz e segurança e desenvolvimento. Esse debate se revelou muito importante, sobretudo para os países em desenvolvimento, que há muito tempo consideram que é muito necessário que a ONU cada vez mais tenha essa percepção das inter-relações entre segurança e desenvolvimento, possa desenvolver as suas atividades de uma maneira mais integrada e que leve em conta, sobretudo, a natureza dos conflitos, muitas vezes ligados a situações de pobreza, de exclusão social, de desemprego. Acho que isso calou fundo entre a maior parte dos membros das Nações Unidas.

Deve ser esperada do Brasil uma maior participação em missões de paz?
Acho que sim. Já notamos uma crescente demanda por uma participação maior do Brasil. Temos considerado essa possibilidade. Atualmente fazemos um grande esforço no Haiti, temos o maior contingente, 2,2 mil militares e policiais. Temos também o comando da Missão de Estabilização do Haiti (Minustah). É um esforço sustentado, que fazemos desde 2004, e que envolve também outros países da região. Estamos agora dando uma contribuição também no Líbano, através de uma missão naval. Está sendo muito bem recebida, tanto por libaneses quanto por israelenses, quanto pelos países árabes da região. E participamos também de várias outras missões de paz, com efetivos menores, mas ainda assim também muito importantes.

Qual o impacto da ação brasileira no acordo com Turquia e Irã, no ano passado, na relação do Brasil com outros países-membros da ONU? Pode ter prejudicado o empenho do Brasil em obter uma vaga permanente no Conselho de Segurança? Ou mostrou que o Brasil tem força?
O Brasil e a Turquia, com esta iniciativa, quiseram demonstrar a importância que nós atribuímos a uma solução negociada para essa questão relativa à natureza do programa nuclear iraniano. Nós achamos que compartilhamos da percepção de que é necessário que o Irã possa esclarecer qualquer dúvida que haja sobre a natureza do seu programa. Mas achamos que a maneira mais viável de conseguir esse objetivo é através do diálogo, da negociação e da obtenção da cooperação do Irã. Por isso é que penso que a nossa iniciativa foi bem compreendida pela grande maioria dos países-membros. E eu espero que as negociações em curso possam levar a uma revitalização dessa proposta que Brasil e Turquia fizeram no ano passado.

A senhora espera que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, manifeste apoio ao Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança, na visita que fará ao país neste mês?
É difícil saber. Mas o que noto é que as manifestações dos Estados Unidos em relação à reforma vão na direção da proposta que o Brasil, junto com seus parceiros do grupo do G4 (Índia, Alemanha e Japão), têm advogado. A ideia de uma expansão que envolva as duas categorias de membros, permanentes e não-permanentes, e esperamos que essa sejam uma posição que possa receber o apoio da grande maioria dos países da ONU.

Que diretrizes a senhora acredita que o governo da presidente Dilma Rousseff dará nos próximos anos para a atuação do Brasil junto à ONU?
O Brasil tem tido uma tradicional posição de apoio às Nações Unidas, como membro-fundador, como país que tem a busca pela paz e por soluções pacíficas de controvérsias. Um dos preceitos fundamentais de sua Constituição. Vai continuar a apoiar as Nações Unidas, participar ativamente cada vez mais das atividades da ONU. Só vejo mais apoio e mais interesse pelas Nações Unidas.

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